Há três meses um amigo me intimou a fazer a inscrição da Ultra Indomit Costa Esmeralda. Mesmo ele achando pouco, fiz para os 50km e ele foi direto ao sonho dele, 100km. Nisso juntou mais uma amiga nos 50km. Além do seu incentivo para a inscrição, ele nos deu um grande suporte nos treinos, embora eu não tenha um pace tão baixo.
Bem, eis que chega o grande dia. Ele largou na sexta-feira, às 22h, e nós no sábado, às 7h. Foram quase 250 corredores na categoria 50km e uma coisa me impressionou demais positivamente – 40% deles eram mulheres. Foi uma Ultra muito feminina. As mulheres não querem correr mais 21km. Isso é um fato.
Houve um momento, no km 37, em que um homem me perguntou se eu estava nos 50km:- naquele momento os corredores do 12km haviam largado – e eu apontei para meu número de peito e ele:
“O que está acontecendo que tem tanta mulher nos 50km?”
“Amigo, o que você está vendo é uma realidade que alguns homens não acreditam. As mulheres são muito mais fortes. Não vi nenhuma dos 50km quebrar, mas vi homens.”
Ele fez o sinal de positivo e seguiu.
Viva as mulheres! Realizei minha segunda Ultra, a outra foi o ElCruce. Nunca havia corrido 50km direto. Adorei. A Indomit Costa Esmeralda é uma prova muuuito bruta. São muitos costões, trilhas, praias e cipós… e bota cipó nisso. Parece que foram colocados a dedo. Cada tombo cinematográfico… rs
No dia da prova, a maré estava alta e corremos muito dentro d’água. A estrutura, os pontos de apoio, os stafs, as marcações são excelentes. Quem corre Indomit sabe que pode correr sossegado por que é tudo muito organizado. O que falar sobre uma Ultra Trail? Pra mim é uma prova que tem cheiro e som. Sim, eu queria gravar o som da passada nas trilhas. É um silêncio quase que sagrado. Os corredores se falam no olhar, cada um abre o espaço necessário para a passada do outro. O companheirismo também é algo que só se vê nas corridas trail.
Eu tenho muito respeito e amor por essas provas. Quando me perguntam se eu volto ano que vem, digo que não. Até porque não gosto de repetir provas. Acho o mundo muito grande pra focar sempre nas mesmas. Mas é uma prova que requer garra, força e concentração, mas sabe como é… a carne é fraca e a gente acaba se entregando a delícia e a dor novamente. De repente uma quilometragem maior, quem sabe…!?
O que fica nisso tudo são os laços de amizade que formamos e reafirmamos a cada prova, a cada “tá tudo bem?”, a cada “obrigada”, a cada “tem um gel aí?”, “e sal?”, a cada tombo, a cada gargalhada… sim, porque corredor vive sorrindo. Encontrar os amigos a cada posto de apoio ou nas trilhas não tem preço. Ouvir os “causos” dos corredores que você conhece no percurso é encorajador. Fora que escutar uma turma gritando seu nome na chegada é sensacional. Só quem corre sabe a alegria que é.
Agradeço ao meu amigo Rodrigo pelo forte incentivo, as boas energias dos amigos e a Deus pela perfeita saúde. E como eu sempre digo: Correr é o maior barato em todos os sentidos.”
Rose Novaes
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”