Um estudo realizado na Cidade de Veneto, na Itália, identificou que, por ano, ocorrem 2,3 mortes súbitas a cada 100 mil atletas, provocadas por todas as causas. A mesma pesquisa mostra que 2,1 mortes súbitas a cada 100 mil esportistas, nesse mesmo período, são provocadas por doenças cardiovasculares. Os números reforçam a necessidade de acompanhamento periódico de cardiologista para a prática de atividades físicas.
Médico do esporte, Serafim Borges explica os riscos da prática de atividades físicas sem acompanhamento adequado. Segundo ele, os que praticam esportes profissional ou amador, com frequência ou apenas esporadicamente, devem ser submetidos a monitoramento periódico de cardiologistas.
“O indivíduo que pratica atividade física, mesmo as de baixa intensidade devem ter uma avaliação médica, que pode ser desde anamnese, exame físico e um eletrocardiograma de repouso, até avaliação mais sofisticada, com outros exames subsidiários. Mesmo os atletas amadores, também podem se exercitar em intensidades que, quase sempre não conseguem controlar, ultrapassando seus limites e colocando a saúde em risco”, explica o médico.
Ele alerta sobre as principais doenças que atingem esses atletas. Pessoas abaixo de 35 anos podem desenvolver cardiomiopatia hipertrófica, uma doença do miocárdio, que é a causa mais comum de morte súbita em atletas jovens.
“Outros riscos nessa faixa etária são o aparecimento da origem anômala de coronárias e da displasia arritmogênica de VD. Já acima dos 35 anos, há maior risco de doença arterial coronariana. A morte súbita ocorre, geralmente quando o atleta tem doença cardíaca estrutural ou possui uma cardiopatia desconhecida, possivelmente por não ter sido detectada em exames usuais”, esclarece Serafim.
Se acompanhadas, no entanto, algumas doenças do coração podem não ser impedimentos para a prática de atividades. O médico afirma que algumas cardiopatias congênitas, como CIA e CIV, podem, quando corrigidas, liberar o atleta para a prática de futebol e outras modalidades.
O também médico do esporte e diretor científico da Sociedade de Medicina do Exercício e do Esporte do RJ, Marcos Brazão, afirma que as orientações para esportistas com ou sem problemas de hipertensão são muito parecidas.
“Esses atletas devem evitar o ganho de peso, evitar o uso abusivo de sal e de substâncias que possam elevar a pressão arterial. A prática de esportes pode ser até um fator positivo para um hipertenso. O que muda no tratamento desses atletas é a medicação utilizada. O médico que fizer o acompanhamento de um atleta de alto nível deve ter ciência de que alguns anti-hipertensivos são considerados doping, dependendo da modalidade esportiva”, ressaltou.
De acordo com Marcos Brazão, betabloqueadores, por exemplo, não podem ser indicados para praticantes de esportes de precisão, como tiro com arco, tiro ao alvo e saltos ornamentais. Já os diuréticos não devem ser receitados para atletas de esportes categorizados por peso, como os de luta.
“Esses últimos não podem ser prescritos por dois motivos: podem mascarar a presença de anabolizantes esteróides, por exemplo, e levam o atleta a perder peso rapidamente, permitindo que ele possa competir numa categoria inferior a sua usual. A opção correta é o uso substâncias alternativas que possibilitem que esses atletas se mantenham nos esportes de sua preferência sem correrem o risco de serem flagrados o exame antidoping ”, justifica o cardiologista do esporte.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”