O site “Sua Corrida” escolheu seis corredoras que fizerem história no mundo da corrida para homenageá-las no Dia Internacional da Mulher, no dia 8 de março …
Por Mariana Amorim
As mulheres estão cada vez mais ocupando um lugar de direito dentro da corrida. O número de participantes em provas Brasil afora cresce a cada dia, e elas já são mais de 50% do pelotão na maioria das corridas do mundo. Mas se hoje a mulherada tem seu espaço garantido no mundo dos esportes em geral, isso se deve a muita perseverança e luta ao longo dos anos. Já fomos proibidas de praticar ou até mesmo acessar o local de eventos esportivos.
Muito das conquistas na corrida que hoje podemos comemorar com orgulho aconteceram pela luta de muitas mulheres, entre elas as que vamos citar a seguir:
KATHRINE SWITZER
Kathrine jogava hóquei no colégio e, por isso, aprendeu a correr. Tempos depois ela foi convidada a integrar uma prova masculina de cross country (corrida fora do asfalto), e prosseguiu no esporte também na faculdade. Inspirada por seu treinador, ela colocou como meta fazer uma prova de 42,195 km. O problema é que naquela época era proibido as mulheres participarem de maratonas. Mas, aos 20 anos, Kathrine conseguiu se inscrever na Maratona de Boston, nos Estados Unidos, usando apenas suas iniciais K.V. Switer. No dia do evento, foi hostilizada pelo diretor da prova, Jock Semple, que tentou tirá-la do percurso (foto). Kathrine resistiu, com ajuda do namorado, e conseguiu ir até o fim do percurso. Só em 1972 é que as mulheres puderam se inscrever oficialmente na maratona e, finalmente, se denominaram maratonistas. Depois disso, Kathrine já correu 39 provas de 42K e ganhou a Maratona de Nova York em 1974 e em 1975.
GABRIELE ANDERSEN
A performance da suíça Gabriele Andersen-Scheiss durante a Olimpíada de Los Angeles, em 1984, simboliza a luta e resistência das mulheres no atletismo e nas corridas de rua. Durante a prova, ela cruzou a linha de chegada quase desmaiando, com as pernas tortas e pouco controle sobre o corpo. Mas no limite de suas forças recusou ajuda (que a eliminaria da prova) e cruzou a linha. O acontecimento marcou a história, já que era a primeira vez que as mulheres disputavam uma maratona olímpica e era a hora de mostrar que elas poderiam, sim, completar a competição.
ELEONORA MENDONÇA
A carioca foi uma das grandes responsáveis pelos primeiros passos da corrida de rua no Brasil. Entre suas ações, a ex-atleta processou o Comitê Olímpico Internacional (COI), a Federação Internacional de Atletismo (IAAF), o Comitê Organizador da Olimpíada de Los Angeles (1984) e seus presidentes por discriminação de gênero, já que até os Jogos de Moscou (1980) só os homens disputavam a maratona olímpica. O movimento resultou na realização da prova feminina em Los Angeles, e Eleonora se tornou a primeira brasileira a disputar os 42,195 km em uma Olimpíada. Por aqui, ela organizou as primeiras corridas só para mulheres e a primeira maratona na capital fluminense. Entre tantos feitos e vitórias, hoje ela comanda um instituto que leva seu nome e incentiva ações de esporte e cultura no Brasil.
MARINEIDE DOS SANTOS
Marineide dos Santos Silva, mais conhecida como Neide, é fundadora da Associação de Moradores da Cohab Adventista e idealizadora e fundadora da Associação Projeto Vida Corrida. Baiana radicada em São Paulo desde 1967, já na adolescência acreditava que a corrida mudaria sua vida. Trabalhava em uma oficina de costura e à noite estudava, corria apenas aos finais de semana. Neide sofreu dois baques na vida por conta da violência. Perdeu o marido baleado pela polícia e, mais tarde, um de seus três filhos, morto por um garoto menor de idade em um assalto. A ideia de treinar pessoas da vizinhança surgiu em 1998, quando ela se propôs a treinar um grupo de mulheres da comunidade. Antes de falecer, o filho havia sugerido à mãe que treinasse também as crianças do bairro. Hoje a Associação Projeto Vida Corrida atende mais de 350 crianças, adolescentes e adultos.
GABRIELA MANSSUR
Idealizadora do projeto Movimento pela Mulher, Maria Gabriela Prado Manssur é promotora de justiça. Ela acredita e usa o esporte (é atleta amadora e maratonista) como ferramenta para o empoderamento e a recuperação da autoestima de mulheres que sofrem violência doméstica. Inclusive, já organizou duas corridas de rua, em 2015 e 2016, para mais de 2500 pessoas, para arrecadar fundos e financiar projetos de combate à violência doméstica de ONGS e associações — além de incentivar homens e mulheres à prática de atividade física. Também foi coordenadora do Núcleo de Combate à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher da Região da Grande São Paulo II por 6 anos.
ANA LUIZA GARCEZ
Ana Luiza Garcez é uma guerreira desde o seu nascimento. Ela foi abandonada em uma caixa de sapatos com a irmã gêmea, e viveu até os 18 anos na Febem. Saiu de lá para ser doméstica em troca de teto e comida, mas se revoltou com a exploração e passou a viver na rua. Aprendeu a se sustentar roubando, traficando e usando drogas. Porém, sua vida mudou após assistir ao filme Carruagens de Fogo, enquanto estava enrolada em um cobertor e deitada na frente de uma loja que vendia eletrodomésticos. Ela se apaixonou pela corrida e costuma dizer em entrevistas que foi fugindo da polícia que aprendeu a acelerar o passo. Para participar das primeiras provas, mandou os garotos de sua gangue roubarem dinheiro, roupas e tênis. Mas por conta do talento nato para o esporte, ela foi descoberta por Fausto Camunha, então secretário de Esportes de São Paulo, que a adotou. De lá para cá, Animal (seu apelido) obteve ótimos resultados, como o título da Meia Maratona de Halloween de Miami (EUA). Aos 56 anos, ela ainda vence muitas provas no Brasil. Inclusive, foi a primeira colocada dos 8K da WRun São Paulo, realizada no último domingo.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”