“Correr é um caminho para a autoconsciência e confiança – podes empurrar-te a extremos e aprender a dura realidade das tuas limitações físicas e mentais ou caminhar em silêncio por um caminho solitário assistindo a terra sob os teus pés.” – Doris Brown Heritage.
Você está familiarizado com esse sentimento? Você tem uma visão sobre seu eu emocional e físico enquanto corre? Gostou da sensação do vento contra seu rosto e a liberdade de estar ao ar livre sozinho com seus pensamentos? Você pode sentir que após uma boa corrida sua mente está clara e pronta para absorver informações. Você também pode achar que a sua perspectiva é mais positiva depois de uma corrida, e que as coisas que te incomodavam já não parecem tão ruins. Bem, seus sentimentos têm uma base científica. Uma pesquisa realizada no campo da neurociência mostra os efeitos do exercício aeróbico na clareza cognitiva e no bem-estar emocional.
Novos neurônios seriam criados. Costumava ser aceito que nós nascemos com uma certa quantidade de neurônios, e que no momento em que nos tornamos adultos os neurônios deixariam de ser criados. Isto, no entanto, foi provado como errado. Através de pesquisa em animais, foi descoberto que novos neurônios são continuamente produzidos no cérebro ao longo de toda a vida. Karen Postal, presidente da Academia Americana de Neuropsicologia Clínica, diz que a única atividade que desencadeia o nascimento destes novos neurônios é o exercício aeróbico vigoroso.
“Se você está se exercitando (cerca de 30 a 40 minutos) e sua, novas células cerebrais estão nascendo”, diz Postal.
Então, suar na esteira ou a céu aberto está fazendo muito bem ao seu cérebro e o ajudando a permanecer mentalmente saudável pelos próximos anos.
Corredores podem se recuperar de emoções negativas mais rapidamente. Em um estudo realizado por Emily Bernstein e Richard McNally, verificou-se que o exercício aeróbico pode ajudar a reduzir as emoções negativas. Bernstein é uma corredora e disse “eu noto que me sinto melhor quando estou ativa”. Ela queria descobrir o motivo e saber exatamente o efeito que o exercício tem sobre nós. O estudo se propôs a analisar a forma como o exercício altera o modo como as pessoas reagem às suas emoções.
Os participantes foram orientados a se esticar ou correr durante 30 minutos e depois assistiram à cena final do filme de 1979, “O Campeão“. Os participantes, em seguida, relataram suas respostas emocionais. Verificou-se que aqueles que tinham corrido por 30 minutos se recuperaram mais rapidamente de sua experiência emocional triste do que aqueles que tinha apenas se esticado.
Um estudo intitulado: “Acute aerobic exercise increases cortical activity during working memory: a functional MRI study in female college students” (Exercício aeróbico forte aumenta a atividade cortical durante memória de trabalho: um estudo de ressonância magnética funcional em universitárias) mostra o efeito do exercício aeróbio sobre a função cognitiva.
Os pesquisadores analisaram o efeito de uma sessão de exercício aeróbio sobre a memória de trabalho. Quinze mulheres jovens participaram do estudo. Elas foram examinadas, após uma sessão de exercício agudo, usando um MRI (ressonância magnética), enquanto realizavam uma tarefa de memória de trabalho. Verificou-se que o córtex e o hemisfério frontal esquerdo mostraram sinais de melhoria nos processos de controle. A partir dessas constatações, os cientistas notaram que isso indica que: “exercício agudo poderia beneficiar a memória de trabalho em um nível macro-neural.” Assim, o estudo mostra uma ligação entre exercícios aeróbicos e melhoria na memória.
Conclusão. Da próxima vez em que estiver em uma corrida, saiba que isso está lhe fazendo um enorme bem. Você não está apenas ajudando seu cérebro em um nível neurológico, mas também está trabalhando para melhorar sua saúde emocional. Suas habilidades cognitivas, como a memória, serão melhoradas, e sua visão da vida provavelmente será mais positiva. Se você ainda não corre, pode tirar os tênis do armário e lhe dar uma chance.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”