Eu na pista: meu 'motor' esquentou na Rio City Half Marathon…

Carro com motor esquentado
Carro com motor esquentado
Eu costumo comparar a corrida de rua com a Fórmula-1 quando estou correndo. Faço metáforas. Uma delas é que a mente é o piloto e o corpo, o carro. Quando o heptacampeão Michael Schumacher tinha que fazer um pit stop, a volta anterior à sua parada nos boxes era a mais rápida. Eu faço a mesma coisa quando estou próximo aos postos de hidratação. Sempre dá para ganhar uns segundos para poder beber água e tomar um gel carboidrato.
Quando o “piloto” e o “carro” estão equilibrados, tudo vai bem no “circuito”. Mas quando há um problema de “ajuste”, todo o sistema começa a entrar em pane. E foi isso que aconteceu comigo na primeira edição Rio City Half Marathon, no domingo passado (9/4).
Curral de largada da Rio City Half Marathon, no Recreio dos Bandeirantes
Estava treinado, confiante em fazer os 21km entre o Recreio dos Bandeirantes e São Conrado entre 1h50m e 2h. Mas dei uma de iniciante e fiz aquilo que não se deve fazer em dias de corrida: experimentei algo novo. Como tive poucas horas de sono, tomei duas cápsulas de cafeina, algo que nunca tinha experimentado, poucos minutos antes do início da prova. Logo após cruzar a  linha de largada, percebi que algo estava diferente comigo. Os batimentos cardíacos estavam acima do normal. Comecei a suar muito – a cafeína é termogênica. A sensação era de estar dando um sprint, mas o Garmin marcava 6m/km. Algo tranquilo. Só que não. Não podia estar assim.
Conforme os metros iam passando, o desconforto ia aumentando. Ia reduzindo o ritmo, mas os batimentos cardíacos não diminuíam. “Piloto” e “carro” começaram a entrar em choque. No Km 3, no meio da Reserva, o pace já estava em 6m30s/km. E o coração trabalhando a 155bpm e subindo. No primeiro posto de hidratação, bebo um copo d’água, pego outro para molhar a cabeça e os pulsos. Levo outros dois para beber até o próximo posto. O alívio da temperatura corporal é temporário. Antes do Km 5, o ritmo estava em 7m/km. Um trote. Mas nada de os batimentos descerem e a sensação de aperto no peito também não. Decidi que ia parar. Não ia ganhar nada continuando correndo daquela maneira. O problema é que  ainda faltava muito para o fim da Reserva. E lá fui eu, num ritmo de 8m/km e os batimentos acima de 155bpm. No caminho, tomei um isotônico. Os outros “carros” passando e eu parecendo uma Minardi…
 
Corredor cansado
Quando acabou a Reserva, resolvi que era o fim de corrida. O relógio marcava 9km, 1h0044s, 864 calorias queimadas, com um ritmo médio de 6m46s/km, com a temperatura em 24º. Totalmente fora dos meus parâmetros normais. Logo em seguida tinha um posto de hidratação. Bebi dois copos d’água, um isotônico, fui ao banheiro. Esperei os batimentos baixarem e entrei num ônibus para São Conrado. Sentado no banco que fica na área de cadeirantes _ como é menos usado, não queria deixar o banco molhado para outros passageiros _, fiz uma poça de suor no chão. Algo fora do comum no meu caso.
Conforme o ônibus andava, ia observando os outros corredores avançando em direção à linha de chegada. Queria estar ali, correndo, mas pensava que a melhor decisão foi ter parado. Poderia ter uma desidratação, algo sério. Sei lá.
Elevado do Joá com os Morro Dois Irmãos ao fundo. Um dos visuais mais bonitos do Rio de Janeiro
Meia hora após parar de correr e de ter ficado no ar-condicionado do ônibus, estava bem. Quando o 175 chegou na Avenida Ministro Ivan Lins, próximo ao Viaduto do Joá, resolvo voltar a correr. Não podia perder uma das mais bonitas vistas do Rio, a do elevado. Como na Fórmula-1, ia dar uma voltas no circuito para fazer testes no carro. Fui num trote até chegar à Praia de São Conrado, quando resolvi fazer um sprint, fechando o Km em 4m54s/km, com os batimentos cardíacos chegando a 184. A sensação da primeira parte da corrida não voltou mais.  Nessa segunda etapa, o  Garmin registrou 4,26km, em 26m36s, num ritmo médio de 6m14s/km e queimei 373 calorias.
Medalha e número de peito da Rio City Half Marathon
Peguei a medalha como lembrança de uma lição. Por mais experiente que você seja, por mais confiante que esteja, uma vacilada pode pôr tudo a perder. Como foi o meu caso. A cafeína que tomei já foi para um amigo acostumado a tomá-la antes de treinos.

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."

2 Comentários

  1. O calor excessivo há de ter contribuído para a quebra. Faltou mencionar, permita-me, que os termômetros na orla da barra marcavam 34 graus. Qualquer médico de plantão sequer recomendaria largar.

  2. O calor excessivo há de ter contribuído para a quebra. Faltou mencionar, permita-me, que os termômetros na orla da barra marcavam 34 graus. Qualquer médico de plantão sequer recomendaria largar.

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