Treino, dedicação, sacrifícios e mais algumas coisas… Mas bastou a ação de vândalos para que o projeto dos participantes fosse estragado. Na sexta edição da Naventura 50k Ouro Fino, na Grande Curitiba, no dia 24 de fevereiro, os corredores estavam no Km 20 quando foram surpreendidos com a falta de sinalização no percurso. Sem orientação, muitos procuraram descobrir o caminho certo, correndo em diversas direções, mas sem sucesso. A explicação: sabotagem.
Manuel Lago, um dos melhores corredores e treinador de trail run do país, que estava na prova, fez um desabafo em sua rede social:
“Num país tupiniquim, você corre porque você gosta, porque ama o que faz. Você se prepara meses, abre mão de diversas coisas também importantes na sua vida (idem para a organização do evento!). Quando num determinado trecho da prova, “vítimas da sociedade” roubam as marcações (fitas) do percurso da prova num trecho de quase 3km! Tudo transcorria bem na prova. Os líderes Rogério Silvestrin e José Mirailton voavam na frente (Silvestrini descendo trechos técnicos a la Kilian) e eu vinha encaixado em terceiro, cumprindo as metas que havia estabelecido para minha performance. No Km 20, dúvidas!!! Bifurcação sem marcação, subo ou desço? Olha o mapa altimétrico no número de peito e vejo que é pra subir. 1km e nada e nenhuma “cara” de que era por ali! Volto até onde errei e encontro Geison Ignacio e mais um atleta. Refizemos a subida e subimos mais ainda. Nada!
Voltamos e começamos a nos deparar com Claudio Clasen e Leonardo Antunes Maciel e outros. Até os líderes nós reencontramos. Traçamos um caminho e voltamos para o ponto de controle do Km 16. Lá ficamos por mais 1h20m até decisão do diretor de prova. Alguns decidiram continuar e fomos… uns fecharam 49km outros menos (eu fechei 46.5km). Mas tudo foi em vão. O tesão já tinha acabado há muito tempo!!! Agora, focar e traçar uma nova meta. Triste por mim, demais atletas e organização. Lamentável o país que vivemos.”
Manuel Lago (de barba) na largada da Naventura 50k Ouro Fino
Segundo Kleber Pacheco, diretor geral da Naventura Outdoor Experiences, organizadora da prova, houve sabotagem. Ele explica o que aconteceu na prova e que acabou prejudicando os corredores. Pela primeira vez, a prova valia pontos para International Trail Running Association (ITA), principal ranking de trail run do mundo.
“A organização chegou a conclusão que foi sabotagem. Em cerca de 400 metros do
percurso, as fitas não foram simplesmente arrancadas, elas foram mudadas de locais,
tinham fitas em trilhas que não faziam parte da prova, tinham fitas que não eram da
organização e placas fora dos lugares. Ou seja, alguém resolver alterar o cenário para
confundir os atletas e fez de forma que ninguém conseguisse achar o caminho correto.
Ressaltamos que até esse ponto, em nenhum momento houve qualquer dúvida
ou problema com a sinalização da prova. Inclusive as outras distâncias (30km, 15km e
7km) concluíram suas provas sem nenhuma intercorrência”, diz o diretor geral em nota.
No comunicado, a organização explica que os atletas estavam percorrendo o percurso dentro do tempo planejado, quando, no Km 23 dos 50km, uma das coordenadoras estranhou, após 10 minutos do tempo previsto, que que nenhum corredor tivesse passado por ali.
“Uma das coordenadoras de percurso adentrou na trilha para verificar. Fazendo o percurso inverso, chegou ao Km 20 e se deparou com as trilhas sem nenhuma marcação. Neste ponto vários atletas estavam perdidos, entrando e saindo de trilhas sem chegar a lugar algum. A primeira atitude do pessoal da organização que estava neste local foi de
evitar que mais pessoas se perdessem, refazendo a marcação e orientando os atletas
que seguissem pelo percurso correto.”
Apesar dos problemas, alguns atletas preferiram seguir na prova – o trecho final, uma subida de 7km, foi cortada – enquanto outros foram para a chegada nos carros da organização. Na arena do evento, os corredores foram unanimes em concordar com o cancelamento da Ultra, pois não havia a menor possibilidade de uma classificação, já que alguns pararam, outros correram a mais, outros cortaram caminho e outros seguiram no percurso correto depois da organização ter providenciado nova
sinalização.
“Não seria justo e nem ético ter uma classificação e uma premiação”, diz a nota da organização, que entregou a medalha e a camiseta de finisher e decidiu que todos os inscritos que largaram terão a possibilidade de escolher uma nova prova da Naventura em 2018, com inscrição gratuita. Para a edição de 2019, os ultramaratonistas que largaram também terão cortesia nas suas inscrições. Como reconhecimento aos participantes, a organização entregará troféus a todos que correram, independentemente da distância final, com a etiqueta de primeiro colocado. Os interessados devem enviar um email para [email protected], informando seu endereço para que possa ser providenciado o envio, sem nenhum custo ao atleta.
“A prova foi cancelada, não haverá classificação e muito menos a possibilidade
de pontuação na ITRA nesta distância. A distância de 30km pontua normalmente”, diz a nota. “Foram investimentos em moeda e tempo, abdicação de muitas coisas, inclusive tempo com a família para treinos e viagens. Sabemos que os envolvidos estão
muito chateados, mas tenham certeza que a organização está mais, pois era de nossa
responsabilidade a satisfação e realização pessoal de cada um neste evento.”
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”
Coisa semelhante ocorreu numa prova do “, Ladeiras” que valia pontuação para UTMB. Coincidência?
Triste ver um país que ao invés de crescer e ver que concorrência também soma, que ao invés de focar em aprendizado e aperfeiçoamento, gasta tempo prejudicando e sabotando quem vem com força pra fazer a coisa acontecer.
Fica nosso prestígio à organização da corrida que, bem conhecemosmos a boa índole.
Coisa semelhante ocorreu numa prova do “, Ladeiras” que valia pontuação para UTMB. Coincidência?
Triste ver um país que ao invés de crescer e ver que concorrência também soma, que ao invés de focar em aprendizado e aperfeiçoamento, gasta tempo prejudicando e sabotando quem vem com força pra fazer a coisa acontecer.
Fica nosso prestígio à organização da corrida que, bem conhecemosmos a boa índole.