Um depoimento sobre uma prova de 26 horas é complicado. Sei que irei esquecer alguma coisa. É assunto demais para recordar. Alguns:
- Fiz a minha inscrição “com apoio”. Também tinha a possibilidade de “survivor”, mas por várias razões (inclusive do próprio regulamento) preferi optar pelo auxílio à distância. Que foi complicado.
Na retirada do kit, passei por quatro checagens: atestado médico, conferência dos itens obrigatórios, checagem do nome/número de peito e entrega da camisa. Todo staff nessa hora desejava “feliz passeio”. Achei aquilo o máximo!
Fiz todo o meu planejamento contando com o apoio aos 25km/entre 65km e 95km/na chegada. Para as provas longas carrego comigo uma “cola” do que acho importante. Dessa vez passei sufoco pois larguei com pouco suprimento contando com o apoio “logo ali” nos 25km. Me subestimei. Cheguei com 30 minutos adiantado e, num misto de muito carro numa cidade pequena e não querer esfriar, resolvi seguir em frente. Tinha a companhia ESSENCIAL PARA PROVAS LONGAS de Rodolfo Tallarida e Eduardo Silva (nessa) que me forneceram gel, salgados…
Renato Coelho diante da distância de sua primeira ultra de três dígitos
Fiquei mais preocupado quando cheguei nos 65km com hora e meia adiantado e também não encontrei o apoio. Ia começar o trecho noturno, estava apenas com água. Encontramos uma padaria (Graças) e o lanche com Coca bateu como uma luva. Eduardo me emprestou uma lanterna de cabeça e fomos em frente. Lá pelo Km 77, numa estrada de terra, chega a patroa. Jesus! Que alívio! Tiro a mochila, como um pouco, troco de camisa, ponho agasalho, pilha nova nas lanternas, gel, isotônico… Fui até o Km 95 com nenhum equipamento no corpo. O carro me esperava a cada 3km. E com outro ESSENCIAL pela estrada: Fábio Carvalho. Ânimo novo na resenha.
Chegamos no Km 95 com três horas antes do tempo previsto e nos preparamos para o pior trecho. Onde além da parede de 15km, enfrentaríamos um frio de 4 graus no alto da Serra do Papagaio. Essa subida é insana. Um breu completo. Pace de 15min/km. Muita pedra rolada.
No alto da Serra, um rodízio de sopas nos esperava. Que alívio novamente! O céu com a lua enorme (apareceu) e as estrelas tocando nossas cabeças fizeram da noite a mais desgastantemente linda de minha vida!
Aí já com 110km começaram os 25km mais sarcásticos de todas as corridas. Achei que terminaríamos a prova com 24 horas pela altimetria descendente, mas impossível correr. Quebra de ritmo toda hora, descida muito íngreme também com pedras roladas, paredes a cada curva…
Faltando uns 10km nos encontramos novamente com o carro de apoio. Fábio foi para o carro e Ediluci assumiu o papel de guardiã.
A chegada foi simples. Nada de portais. Mais um PC (a prova era de 235km), mas que emoção! Para que portais?
Para verem a insanidade dos 40km finais após Aiuruoca, estávamos com tempo de folga para o planejado e chegamos duas horas depois. Mas com folga para o corte: 8 horas.
- Importantíssima companhia em provas assim. O incentivo ali do seu lado. Talvez eu já tivesse desistido no km25 (na falta do apoio). No trecho noturno, com certeza. Obrigado Rejanny, Ediluci, Fábio, Eduardo, Rodolfo e minha mãe.
Um apoio de carro (para mim) também é fundamental.
A cabeça tem que estar bem. Curtir é tudo!
Alimentação e hidratação balanceada antes, durante e depois.
Obrigado coach Marcelo Duarte. Sempre acreditei que as planilhas dariam certo.
Obrigado #MDRunners pela corrente e pelas palavras pós feito.
Como nunca digo nunca, dou um “até qualquer hora” às provas acima de 42km. Tempo demais longe das pessoas queridas, tempo demais treinando… Estou completamente feliz comigo.
Quem quiser saber mais detalhes dessa UAI ou sobre qualquer outro assunto, esses 9 anos de tênis e esses 56 anos por aí, me trouxeram coisas que não acho justo guardar só para mim.
“De nada adianta ser luz se não serve para iluminar o caminho dos demais”.
Próxima! Ultra não!
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”