Ontem, publiquei aqui o texto que a jornalista Manoela Penna escreveu sobre a véspera da Maratona de Atenas, que comemorou os 2.500 anos da façanha do primeiro maratonista, o grego Felipedes, que correu os 42km entre as cidades de Maratona e Atenas para anunciar a vitória grega sobre os persas. Hoje é a experiência da Manoela nesta prova há seis anos. Quem quer correr essa prova mística ou vai estar participando dela no próximo dia 13, vale ler o relato:
Centenas de atenienses saíram às ruas para saudar os corredores. E vou dizer: não há gel de carboidrato que supere a energia que essas pessoas passam durante a prova. Minha sensação era que eu estava sendo colocada no colo, empurrada ladeira acima. “Bravo, bravo”, gritam crianças e senhoras, homens que saíram de casa no domingo apenas para participar da festa. E fazer a festa ainda mais bonita. “Kalimera (bom dia)”, repetia uma moça com a bandeira grega na mão ainda nas primeiras horas da fresca manhã (o dia começou com 6 graus e foi a mais de 20 durante a prova). “Welcome to Athens (bem vindos a Atenas)”, saudava um grupo quando a corrida se aproximava dos limites da cidade.
O que durante a semana parecia uma festa “gringa” na casa dos gregos, no sábado já tomava tons multicoloridos nas ruas, metrô e bares de Plaka, o bairro aos pés da Acrópole. Claro, como não tinha pensado nisso antes: dias úteis, atenienses trabalham e só turistas dão o ar da graça.
“Vocês são brasileiros? Tem aquele maratonista de 2004…”, puxou papo um grego grandão na estação de Syntagma, a praça central da cidade, lembrando mais uma vez dele… Vanderlei Cordeiro de Lima, o homem no imaginário coletivo de um pais que cresceu entre mitos e heróis. E nosso novo amigo tratou de nos dar dicas sobre a prova. “Não é tão dura como parece, mas a subida leva 20km para acabar…”, disse ele, o que nos tranqüilizou e estressou ao mesmo tempo.
No restaurante onde fomos carregar o corpo com carboidratos (nada melhor do que uma Mousaka, com batata, carne e beringela…), o garçom Theodor, com autoridade de quem correu 14 vezes a Maratona de Atenas com o melhor tempo de imponentes 2h52min, perguntava nossos planos para a corrida.
“Se eu fizer 4h30 está bom”, respondi, somando o pouco treino às ladeiras para fazer um tempo um pouco acima das 4h21 que havia feito na minha primeira maratona, no Rio, em julho.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”