Neste domingo (2/6), acontece a 36ª Maratona de Porto Alegre, uma das mais tradicionais do Brasil. Então, como incentivo para aqueles que vão correr sua primeira maratona, iniciando sua jornada nesta distância mítica, compartilho um belo texto. Os conselhos do argentino ultramaratonista Aldo Ronald Divarvaro servem igualmente para os experientes.
Querido amigo, futuro maratonista.
Umas das experiências mais intensas de sua vida está para começar: a primeira maratona. Terminar uma maratona está ao alcance de poucos e sua única meta é, portanto, a linha de chegada. Acima de tudo, não importa o tempo, em absoluto.
Terminar uma maratona exige muita personalidade, uma grande inteligência, muita dedicação, uma grande força de vontade, um alto nível de paciência e uma grande capacidade de sofrimento. Em resumo: exige ser uma pessoa completa e um pouco diferente dos restos dos mortais. Exige ser um maratonista no sentido amplo da palavra. É uma forma de vida.
O jogo emocional que o desafio da maratona te impôs começou e é preciso desfrutar dele. O mais duro da maratona são os quatro ou cinco meses de treinamento, que certamente foram superados com louvor. Então não há nenhuma razão para estar tenso agora. Portanto, deixe a euforia tomar conta de você ao cruzar a linha de chegada.
Os primeiros 10km
Durante os 10 primeiros quilômetros desfrute da festa, seja lento, não se deixe levar por corredores mais rápidos. Então essa é a parte da corrida em que se deve ser mais conservador com um intuito de ter uma reserva de forças que, certamente, você vai precisar para os últimos 7km. Em teoria, você deve chegar ao Km 10 sem suar. Muitos de vocês estão agora avançando como um tiro que vai desgastá-los nos últimos 12km. Insisto, as forças que economizarem agora vai levar vocês à glória final.
Entre os Km 10 e 25 se deve correr em um ritmo um pouco mais rápido, mas é fundamental que se mantenha conservador. Lembre-se: a maratona é um jogo emocional. Curta a festa da maratona. Tenha em mente que, quando chegar na metade da prova, você ainda não fez nada. Você ainda não é um MARATONISTA.
Quando chegar ao Km 25, se você estiver correndo bem, é possível que os sinais de cansaço não apareçam. Se você foi conservador até os quilômetros 29, 30 ou 31, o famoso MURO não vai aparecer. Aqui você vai começar a ver corredores parando ou passando mal. Mas não pense, em nenhum momento, no Km 42. Seria, certamente, uma armadilha mortal. Pense nos quilômetros seguintes. Que quando chegar ao Km 35, você vai se sentir melhor que no Km 34.
Mistura de sentimentos
Companheiro, você chegou ao mítico ponto do Km 35 e só faltam faltam 7km. É a maratona em sua máxima expressão. Será uma mistura de raiva, euforia, dor, fadiga, cansaço, sentimento puro, emoções à flor de pele, determinação absoluta. Se foi conservador até agora, é um mix explosivo de sensações maravilhosas que vai te fazer maior, muito maior que esta prova. É hora de, pela primeira vez, então, começar a pensar no Km 42.
Chuva, vento e recorde pessoal na Maratona de Porto Alegre, por Luiza Fellippa Marques
Enfim, agora é hora de correr com as pernas e não mais com a cabeça ou com o coração. Tem que correr com a alma. Viver, então, intensamente os 200 metros finais. O que você vai experimentar pela primeira vez ao cruzar a linha de chegada e nas duas horas seguintes, certamente vai ser algo muito pessoal e íntimo, que não poderá ser descrito para outra pessoa. E é o que vai te levar a correr outra maratona.
Aldo Ronald Divarvaro, ultramaratonista argentino
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”