Pesquisa feita com 131 atletas de alto rendimento nos Estados Unidos pela plataforma Strava e pela Universidade de Stanford revela os danos financeiros, pessoais e motivacionais causados pela pandemia da Covid-19 na comunidade esportiva.
O estudo “O Impacto da Covid-19 em atletas profissionais” também mostra mudanças no comportamento, incluindo significativas alterações nos horários de treinos, e chama atenção para perseverança e resiliência da comunidade esportiva durante um dos períodos mais desafiadores do mundo moderno.
O estudo comprovou impactos significativos na saúde mental dos atletas. De acordo com a pesquisa, um em cada cinco esportistas relatou dificuldade em se exercitar relacionada à motivação. Antes das restrições impostas pela Covid-19, 3,9% dos atletas disseram se sentir para baixo mais da metade dos dias da semana. Esse número sobe para 22,5% durante as restrições do coronavírus, o que equivale a um aumento de 5,8 vezes. E quando o foco é o aspecto financeiro dos analisados, 71% dos atletas pesquisados se preocupam em receber uma compensação financeira por suas atividades durante o período de restrições pela Covid-19.
Pesquisa mostra que Covid-19 alterou hábitos de atletas
A pesquisa também analisou a rotina de treinos de cada um deles e chegou a conclusão que os hábitos sofreram alterações durante a pandemia: 31% dos atletas aumentaram a duração das sessões de treinos durante o período da pesquisa. Os dados de atividade do Strava indicaram que eles se exercitavam por 92 minutos por dia, em média, antes das restrições da Covid-19, e 103 minutos por dia durante o período de restrições.
Os atletas ainda reportaram que modificaram os treinos em grupo ou com um parceiro devido às restrições da pandemia. Antes da Covid-19, 91,2% dos esportistas treinavam com um parceiro pelo menos uma vez por semana. O mesmo dado cai para 68,9% durante a pandemia. Ainda sobre essas mudanças, a pesquisa mostra que 39,7% dos participantes treinavam em equipe pelo menos uma vez por semana no período pré-pandemia e durante as restrições apenas 11,6% continuaram com essa rotina. O que representa uma queda de 3,4 vezes.
“Um ano sem competição equivale a um ano perdido”, afirma ciclista Pipo Garnero
No Brasil, o ciclista profissional Pippo Garnero concorda com as informações reveladas pelo estudo. “Minha rotina como atleta profissional foi afetada pela pandemia, sobretudo em virtude do cancelamento de todas as competições e da incerteza quanto ao calendário esportivo anual. Sem competições, um atleta fica absolutamente sem norte” explica Pippo. “O ciclo de um atleta de alto rendimento não é muito longo. Um ano sem competições equivale a um ano perdido, pois é na competição que o profissional mostra o resultado de seu trabalho, de todo o seu esforço durante o treinamento. É competindo que se ganha visibilidade e dinheiro para seguir a vida como atleta profissional”.
“O estudo trouxe a clareza de que a Covid-19 teve amplas implicações na comunidade atlética, particularmente quando se trata de saúde mental”, explica a Dra. Megan Roche, pesquisadora clínica e candidata a doutoranda em epidemiologia na Universidade de Stanford. “A parceria com o Strava nos possibilitou ter um entendimento holístico do que os profissionais estão passando. Combinado com a mudança do cenário esportivo, nós podemos entender melhor os impactos desses efeitos a longo prazo nos atletas e como conseguimos ajudar com possíveis intervenções”, completa.
“Claras evidências do dano causado na saúde mental”, diz pesquisador
O autor, professor de Stanford e médico de medicina esportiva, Dr. Michael Fredericson afirma: “As descobertas desse estudo ajudarão a guiar nossa abordagem para maximizar a saúde dos atletas de elite em todo país durante esse período sem precedentes. Embora esteja incrivelmente impressionado com a coragem desses profissionais, agora temos claras evidências do dano que isso está causando em sua saúde mental. O estresse descontrolado pode diminuir a resposta imunológica do corpo, bem como prejudicar a capacidade de recuperação completa dos exercícios intensos. Precisamos fornecer recursos adicionais para ajudar os atletas a enfrentar esses desafios”.
As principais descobertas do estudo
Atletas profissionais de alto rendimento relataram impactos significativos na saúde mental
- 1 em cada 5 atletas reportou dificuldade em se exercitar relacionada à motivação, saúde mental e Covid-19
- Antes das restrições impostas pela Covid-19, 3,9% dos atletas reportaram se sentir para baixo ou depressivos mais de metade dos dias da semana. Esse número sobe para 22,5% durante as restrições do coronavírus, o que equivale a um aumento de 5,8%.
- Antes das restrições da Covid-19, 4,7% dos atletas disseram se sentir nervoso/ansioso mais da metade dos dias da semana. Esse número sobe para 27,9% durante a pandemia, representando um aumento de 5,9%.
- Covid-19 afetou atletas financeiramente
- 71% dos atletas pesquisados se preocupam em receber uma compensação financeira por suas atividades durante o período de restrições pela COVID-19
- Os hábitos de atividades dos atletas foram alterados durante a Covid-19
- 31% dos atletas reportaram aumento da duração das sessões de treinos durante o período da pesquisa
- Dentre os que aumentaram a duração dos treinos, os dados de atividade do Strava indicaram que eles se exercitavam por 92 minutos por dia, em média, antes das restrições da Covid-19, e 103 minutos por dia durante as restrições da Covid-19
- 17% dos atletas reportaram crescimento da intensidade das sessões de treinamentos durante o período analisado
- Os atletas ajustaram o treinamento em grupo, seja com um parceiro, equipe ou técnico devido às restrições da Covid-19
- Antes da Covid-19, 91,2% dos atletas treinavam com um parceiro pelo menos uma vez por semana. O mesmo dado cai para 68,9% durante a pandemia.
- 39,7% dos participantes treinavam em equipe pelo menos uma vez por semana no período pré-pandemia e durante as restrições apenas 11,6% continuaram com essa rotina. O que representa uma queda de 3,4%.
O primeiro semestre deste ano foi extremamente disruptivo para o esporte com cancelamentos de eventos mundiais, incluindo o adiamento dos Jogos Olímpicos de 2020 e dezenas de maratonas, incluindo a Maratona de Boston, Maratona de Nova York e Maratona de Chicago. Entretanto, há indícios de que a comunidade esportiva está começando a encontrar soluções para competir com segurança, incluindo a organização bem-sucedida do Tour de France e o crescente interesse em maratonas virtuais.
Atletas de todos os níveis contam com resiliência e perseverança para atingir seus objetivos e agradeço a franqueza daqueles que participaram e estão mostrando aos colegas que não estão sozinhos em suas adversidades. Mesmo neste ano extraordinariamente desafiador, é claro que a comunidade atlética continua a se esforçar”, afirma Michael Horvath, CEO do Strava. “Estamos orgulhosos com a parceria com Stanford, Dr. Fredericson e Dra. Roche para esta importante experiência pela qual os atletas profissionais do mundo estão passando”.
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Metodologia:
A pesquisa foi realizada em parceria do Strava com a Universidade de Stanford. Inclui as respostas de 131 atletas profissionais dos Estados Unidos, entre ciclistas, corredores e triatletas do Strava. Os atletas responderam a uma pesquisa de 30 perguntas e 114 atletas deram autorização para que seus dados de atividade fossem analisados. Pré-Covid-19 significa datas entre 1º de janeiro de 2020 e 14 de março de 2020, e durante Covid-19 são as datas entre 15 de março de 2020 e 20 de agosto de 2020. A pesquisa foi realizada de 12 de agosto de 2020 a 25 de agosto de 2020. População de atletas profissionais: 44% corredores, 39% ciclistas, 11% triatletas, 6% outros
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”