A recuperação do Estádio Célio de Barros, no Maracanã, destruído para a Copa do Mundo com a promessa de ser reerguido após o Mundial, tem sido uma luta incansável para um grupo de pessoas envolvidas com o atletismo. Para eles, se o Maracanã é o templo do futebol, o Célio de Barros é o do atletismo. Para manter a causa em evidência até que as autoridades devolvam o espaço recuperado para o esporte, os organizadores promovem, a cada dois meses, a Corrida e Caminhada pelo Célio de Barros, que no dia 26 de junho chega em sua 14ª edição. As inscrições estão abertas no valor de R$ 35 + R$ 5 de taxa de serviço.
“Vários atletas que hoje fazem parte da seleção brasileira de atletismo tiveram seu berço no Célio de Barros. Precisamos abraçar essa causa tão importante para o futuro das nossas crianças e adolescentes”, afirma o professor Rabelo, um dos líderes do grupo.
Segundo Rabelo, o projeto Corrida e Caminhada pelo Célio de Barros tem por objetivo de conscientizar a sociedade carioca da importância daquele importante espaço para o desenvolvimento do atletismo. O coronel da reserva da Polícia Militar do Rio, com grande envolvimento com o esporte, conta que desde o fechamento do estádio, os atletas estão sem um local ideal para treinar.
“Foi doloroso. O cadeado no portão 17 do Estádio de Atletismo Célio de Barros, com o material de treino retido, sem diálogo, sem local para levar os atletas que ali treinavam. Crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos… Como avisar 322 famílias que o fechamento inesperado? A esperança e a crença se mantiveram nas mentes dos corredores, professores, treinadores, para a tão esperada reconstrução do Célio de Barros”, diz o professor Rabelo.
Ele lamenta que essa interrupção das atividades no Célio de Barros tenha interrompido:
“Muitos talentos para o atletismo foram perdidos nesses quase três anos por não terem condições financeiras de nos acompanhar. O Célio de Barros era o quintal, o play aonde eles chegavam de trem, metrô, ônibus, vindos de todas as comunidades do Rio. A ‘UPP’ Célio de Barros sempre teve como espírito pacificar através do amor, transformar e resgatar vidas. Esse era o objetivo principal do atletismo.”
Para Rabelo, o atletismo tem um grande papel social.
“O atletismo é um esporte de excluídos, de gente pobre, onde falta tudo, do carinho à alimentação, do tênis à sapatilha. Mesmo assim nunca desistimos de sonhar o sonho desses que chegam pelo bico da cegonha. É assim que falamos quando chega àqueles que sabemos que foram enviados por Deus para crescermos com sua história de vida. Talvez seja a primeira porta que se abre para alguns e, talvez, seja a última oportunidade de transformação de vida para outros.”
O trabalho para o retorno do Célio de Barros é incansável:
“Nosso grupo de trabalho vem lutando de forma bastante ativa pela reconstrução do complexo de atletismo do Célio de Barros. Estamos todos os dias estão nos locais de treino, pois nossa maior preocupação tem sido com as crianças e adolescentes treinando um dia pela Quinta da Boa Vista, em outro na Praça Paris, no campo de polo em Deodoro, na UFRJ, na rampa do Metrô, na calçada do Engenhão, nas praias, no próprio Engenhão, e até mesmo no Mato Alto. Diante disso tudo, tivemos a ideia de criar, a cada dois meses, a Corrida e Caminhada do Célio de Barros, com o objetivo de mostrar ao poder público e à nossa sociedade a importância do Célio de Barros”
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”