Nessa semana que antecede a Maratona do Rio, vou dedicar esse espaço para falar de uma das principais provas do país, que atrai corredores de várias partes do Brasil. Para começar, republico aqui como foi minha primeira experiência nos 42km, em julho de 2009. Gostei tanto que depois vieram outras nove… E muitas outras virão…
“Amigos, demorei mais tempo para escrever este post do que para correr a Maratona do Rio no último domingo. As obrigações profissionais não deram chance, mas vamos lá.
É difícil descrever o que se sente nos 42km da prova. É um misto de emoções, que vão da euforia ao desespero, da alegria à tristeza, da satisfação ao desânimo… Mas, no fim, o meu resultado foi muito positivo. Ao terminar a prova em 5h07m27s, na 1.710ª colocação geral e na 297a na categoria entre 45 e 49 anos, me senti realizado.
Superei meus limites. Estava preparado mentalmente para os sofrimentos de uma corrida tão dura para um estreante. Sabia que era possível me lesionar, ter câimbras etc. Durante o percurso, vi pessoas passando mal, outras sendo atendidas por equipes de socorro e ambulâncias, com sirenes ligadas, acelerando por entre os corredores. Mas graças a Deus, cruzei do Pontal ao Aterro do Flamengo sem grandes problemas. Meu único erro foi ter abusado nos goles de isotônico no primeiro posto, no meio da Barra. Os goles a mais me renderem um desconforto intestinal, resolvido com um pit stop no posto de salvamento de São Conrado. Mas vamos à prova.
Cheguei na prova às 7h20m, na carona da moto do meu amigo de fé, irmão camarada Taurino Parente. Ele foi uma espécie de escudeiro até o fim, incentivando-me todas as vezes que nos cruzávamos pelo caminho. Valeu parceiro. Com a estratégia já mentalizada de correr a primeira parte em um ritmo moderado, entre 6m20s/km e 6m40s/km. cumpri esta etapa dentro do previsto. Mas quando cheguei na subida do Elevado do Joá, aqueles goles do isotônico começaram a fazer efeito. O desconforto intestinal e a pista inclinada do viaduto exigiram concentração e determinação. O ritmo, que estava constante nos 6m20s/km, caiu bastante, para algo em torno de 7m20s/km. Na descida para São Conrado, quase parei. Mas fui trotando até o posto. Resolvido o problema, estava novo. Na subida da Niemeyer, fui retomando o ritmo até chegar ao Leblon, já com o relógio marcando 7m/km.
Vencida a Niemeyer, o desafio agora era cruzar a orla. Mas aquele terreno eu conheço bem. Mantive uma velocidade média de 6h45m/km entre o Leblon e Ipanema. A minha sorte e a dos outros milhares de corredores foi que a temperatura estava amena, propícia à corrida. Meu temor de chegar em Copacabana com um sol forte foi desfeito ao entrar na Avenida Atlântica. Apesar disso, essa travessia não foi fácil. Meu ritmo voltou a cair, chegando a 8m20s/km. A mente brigava com o corpo. Mas eu não podia vacilar a poucos quilômetros da chegada. Quando dobrei na Avenida Princesa Isabel, mente e corpo pararam a queda de braço voltaram a se entender.
Ao passar pelo Túnel do Pasmado, sabendo que faltavam três curvas para o fim, acelerei. E assim fui até próximo o corredor que levava ao portal de chegada. Ao passar pela barraca da Pró Ribeiro, Alexandre e Marquinhos começaram a gritar palavras de incetivo. Foi o suficiente para dar um pique inacreditável. Estava leve, com a certeza de dever cumprido.
Mas ao ver minha mulher, Ana Perrone, que tanto me apoiou nestes últimos 12 meses, na linha de chegada, a emoção se agigantou e um nó na garganta quase me sufocou. Ainda bem que faltavam alguns passou para o fim. Cruzei os 42,195km chorando, com as lágrimas misturadas ao suor.
Um filme passou rápido pela minha cabeça. O primeiro capítulo foi a minha estréia em corridas de rua, totalmente despreparado, na São Sebastião de 2006. Depois veio a Meia Maratona Internacional do Rio, em que fiz em 3h40m, correndo, andando, arrastando, quase desfalecido. Hoje, me vejo um outro corredor, mais bem preparado e confiante. Obrigado a todos que me apoiaram. Agora, é recomeçar os treinos para novos desafios.”
Amanhã, minha segunda maratona do Rio
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”