Espaço do atleta: Nasce uma maratonista, aos 70 anos, e ela se chama Lindalva Figueiredo

“Acordamos às 4h, nos arrumamos, tomamos café e fomos andando até o Maracanã para pegarmos a van que nos levaria até a largada da Maratona do Rio, no Recreio dos Bandeirantes.
Parecia uma manhã normal de treino. Não deixei transparecer que estava ansiosa e um pouco temerosa da chegada. Dona Lindalva estava bem, calma. Aos chegarmos à praia, encontramos vários amigos e começaram as fotos e mais fotos. Fomos para a área vip e ficamos sabendo que teríamos a companhia de um cinegrafista em alguns momentos, mas disse a ela que ignorasse e fizesse o que tínhamos treinado e combinado.

Tive a companhia da grande amiga Duzza Barboza me ajudando a conduzi-la. Faltando 5 minutos fomos para a largada. Liguei seu MP4 e avisei que era para ir colada a grade e sempre atrás de mim até voltarmos para a praia, pois viria uma “manada” logo após a saída. E assim foi. Ao chegarmos à praia aí fomos lado a lado, eu sempre pegando água e isotônico. E já éramos saudadas por muita gente, amigos e desconhecidos.
Surpreendentemente ela foi num ritmo além do que eu esperava. Passamos pela largada da meia maratona, no Pepê, com 2h30m cravados. Ela só passou a caminhar a partir do elevado do Joá, no km 22.  Já eram recordes para ela: a melhor meia (a anterior era de 2h33s e nunca tinha corrido tanto sem caminhar. Dali em diante foi caminhando forte e correndo. E sempre recebendo carinho e incentivo. As pessoas passavam e queriam tirar foto, filmar, algumas voltavam…era incrível…pois muitos não eram conhecidos, diziam “a senhorinha do painel”, “li a matéria com vocês” e que “gostariam de chegar a idade dela com a mesma disposição”. Até quem não estava na corrida se surpreendia quando ela passava, ouvi muitos comentários: “não acredito no que vejo”…”nossa uma velhinha  correndo maratona”…
No inicio da Avenida Niemeyer, um grupo de amigos da Rocinha estava com água de coco nos esperando. No km 27, o amigo Zekka também se juntou ao trio, pois disse que já estava pensando em abandonar, mas vendo Dona Lindalva não poderia desistir e veio com a gente. Comprou coca cola e batata frita e demos à ela.
No Leblon o joelho começou a doer. Paramos e passamos gel e ela voltou a alyternar caminhada e corrida. No Forte de Copacabana, o amigo JB Ramos nos esperava com coca cola e fizemos a última massagem no joelho e também no ombro. Sempre sendo saudadas e aplaudidas.
 
Chegando na Avenida Princesa Isabel, minha amiga Beth, que tinha corrido a meia maratona, estava dando coca cola aos corredores que passavam, peguei mais 1 copo. Passamos os túneis e chegamos à Praia de Botafogo. Encontramos com o amigo Ubiracy, que ficou tão feliz ao nos encontrar, que gritava, pulava, filmava. Foi ótimo ver a alegria dele.
Depois mais alguns amigos como Marco Antônio, Paulo Costa, Zim, Willian, Isabella se juntaram e um virou comboio. Ao fazermos a última curva, perto da churrascaria Porção, já era possível ouvir a gritaria, a euforia das pessoas e a emoção tomou conta de mim.
Nunca imaginei que seria assim. De verdade. Nunca imaginei. Sei que somos queridas, sabia que teria uma festa ao chegarmos, mas não na magnitude que foi.
Cruzamos a linha de chegada de mãos dadas com 5h32m03s. E logo fomos engolidas, eram tantos abraços, beijos. A cereja do bolo pra ela foi ouvir a narração do Adriano, seu locutor preferido, que veio recepcioná-la.

Coloquei a medalha em seu pescoço e ela colocou a minha no meu. Até conseguirmos chegar na área das tendas foi demorado. Todos queriam tirar fotos e abraçar e eu doida que ela sentasse logo. Depois de muito tempo, conseguimos. Não precisou ir ao posto médico, o meu temor.
 
Tinha certeza que chegaria, mas o meu medo era o seu estado físico. Chegou bem, cansada, como todos que completam uma maratona, mas chegou bem. Não estava ofegante, não passou mal. Fez massagem e logo fomos pra casa. Um banho e cama. Acordamos às 18h e almoçamos. Agora tenho uma maratonista em casa. Agora Dona Lindalva me entende 100%. Com certeza isso nos unirá mais ainda. Ela já disse que quer fazer novamente em 2017 e diminuir 2 minutos do seu tempo.
Esta maratona foi uma parceria nossa, mas teve o apoio, o dedo de vários amigos. Desde a preparação recebemos muito carinho, muito incentivo. E quero agradecer de coração a todos que torceram para que minha mãe se tornasse uma MARATONISTA. Dia 29/05/2016, esta data jamais sairá da mente. O dia que venceu o amor, a dedicação, a superação, a garra, a fé e a verdade.”
Claudinha Figueiredo

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."

5 Comentários

  1. Chorei!!! Que emocionante… podemos tudo o que nos dispomos a fazer… me emocionei! Completei minha primeira Maratona ano passado, esse ano não pude ir, por conta de uma lesão.. Fico vendo os relatos e sempre me emociono, o dela superou todos, sei bem a emoção que é completar essa prova linda! Parabéns Dona Lindalva e todos os envolvidos! Beijo!

  2. Nossa que lindo meus parabéns com um abraço bem forte nas duas sou de muito longe mais acompanhei pelas redes sociais e fico muito feliz por vocês de coração bjs de Leandro Nunes….

  3. Uma coisa fantástica e emocionalmente tão enorme como o próprio percurso de uma maratona. Parabéns para mãe e filha.

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