Há exatos seis anos, a jornalista Manoela Penna escreveu sobre a Maratona de Atenas no meu antigo blog. Era comemorada, naquele ano, os 2.500 anos da façanha do mensageiro Felipedes, que correu os 42km que separam a cidade de Maratona da capital da Grécia para anunciar a vitória dos gregos sobre os persas. Vale a pena a (re)leitura. Ainda mais para quem estiver inscrito na próxima edição, que acontece no dia 13 de novembro.
Mapa do percurso da Maratona de Atenas
A clássica maratona é feita toda no asfalto. Os primeiros 12km são planos. Os 19km seguintes ocorrem em subidas longas. Os últimos 11km são em declive até a linha de chegada no Estádio Olímpico, berço dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Esse mítico percurso serviu de palco para a prova olímpica em 2004, nos Jogos de Atenas, que transformou o brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima em herói.
O relato de Manoela Penna na véspera da prova, que aconteceu no dia 31 de outubro.
ATENAS (30/10/2010). “O Vanderlei veio?”, perguntou antes de dar bom dia o grego Themistoklis Chachavias, guia da excursão que levou um grupo de maratonistas brasileiros à Acrópole de Atenas.
pelo mensageiro Felipedes, que vinha anunciar a vitória sobre os persas.
A exposição que narra o combate no ano 490 antes de Cristo, no local onde são entregues os kits aos corredores deste ano, culmina com fotos de maratonas memoráveis nas 1.300 cidades onde a prova é realizada hoje em dia. E quem está lá — não em uma, mas em duas fotos? Vanderlei, sempre ele.
Encontrei certa vez Vanderlei em 2009. Eu com uma fratura por estresse na tíbia sem poder correr 100m. Ele, atencioso, distribuindo autógrafos. O meu está pregado na porta da geladeira de casa: “Manoela, boa sorte na sua maratona”. Não sabia sequer se esse dia chegaria. Mas serviu de motivação e, se no domingo alinho para minha segunda maratona — e justo no “templo” de Vanderlei —, mal sabe ele que também se deve àquela mensagem de quase dois anos atrás.
Com uma temida subida entre os quilômetros 12 e 30 e o romantismo da organização em acreditar que os ramos de oliveira importam mais do que a premiação em dinheiro, a Maratona de Atenas não atrai grandes corredores de elite. Pouco importa. Tal como eu, muitos viraram a planilha do avesso para poder estar na Grécia para comemorar a data histórica. Eu já corri a Maratona do Rio em julho, não tinha nada o que fazer aqui.
— Sempre fiz provas de 10km. Maratona era um sonho que eu achava que só realizaria daqui a uns três anos, teria que correr umas meias antes. Mas quando soube que esse ano era 2.500 da lenda da Maratona, cortei o caminho”, contou o paulista Fernando Leite, de 36 anos, que correrá pela primeira vez a distância.
É uma grande festa. Na feira da maratona vende-se de tudo — e muito. De tênis a macarrão, de camiseta a vinho licenciado para a data. “O sabor da vitória”, diz o convincente cartaz, que fez o produto ser vendido como água para uma torre de babel traduzida em números: 55% dos participantes vêm de fora da Grécia para correr. Não por acaso, as camisas comemorativas se esgotaram nas primeiras horas da feira aberta.
Talvez poucos saibam, mas Felipedes correu, em 24h, os 246km de Atenas até Sparta para pedir ajuda ao exército daquela região na batalha contra os persas. Por sorte nossa, a corrida que entrou para a história foi só a de 42km.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”