Iazaldir Feitoza é um dos melhores atletas de trail run brasileiro. Dono de vários títulos no Brasil e no exterior, ele está se prepara para mais uma temporada de competições aqui e no exterior. Como a competitividade nas trilhas está cada vez maior, exigindo técnica e velocidade, Iazaldir, de 42 anos, tem se dedicado bastante aos treinos neste início de temporada e, por ainda estar em condições de brigar pelo alto do pódio, a aposentadoria não é para 2016. Sobre a morte de sua mulher em una prova no ano passado, ele diz que foi uma fatalidade e, para Angelina, ele dedica uma nova via que desbravou para chegar ao cume da Pedra da Gávea.
Você começou 2016 disputando o XTerra Ibitipoca, em 19 e 20 de março. Qual foi a sua expectativa para sua estreia no ano e o que esperar da temporada?
IAZALDIR – Escolhi participar dos 23km do Xterra Camp Ibitipoca por fazer parte de minha preparação para esta temporada de correr algumas provas mais curtas, assim consigo aperfeiçoar ainda mais a minha velocidade. As provas em montanhas estão ficando rápidas, atletas pesados, lentos e resistentes deixaram de ser a referência nas trilhas há um bom tempo. A temporada tem tudo para ser incrível. Os desafios serão muitos e farei de tudo para me manter super competitivo em todas as provas que participar.
Iazaldir Feitoza na Pedra da Gávea com a Barra ao fundo
Como anda sua preparação?
IAZALDIR – Minha preparação consiste de um bom treinamento de base, aonde começo a temporada alternando treinos de bike com corrida, além de realizar treino de musculação. A partir da metade do ano, a bike só entra nos períodos de transição entre os ciclos de treinamento.
Quais são suas expectativas para 2016?
IAZALDIR – As expectativas sempre são as melhores possíveis e, para isso, é preciso manter um alto nível de comprometimento com o que é determinado para a temporada e isso envolve encontrar o equilíbrio entre corpo e mente.
Quais são suas provas-alvo?
IAZALDIR – Não costumo ter provas-alvo. O que busco é estar pronto para toda a temporada e, quando necessário, realizo as estratégias para determinada prova.
No ano passado, você teve uma perda muito importante, a de sua mulher, mãe de sua filha mais nova. Ela morreu após disputar uma prova. O que você pode falar sobre isso agora?
IAZALDIR – Foi uma perda muito importante e a ficha demorou um pouco a cair, mas o tempo foi passando e o cara lá de cima me ajudou a seguir em frente. O pessoal das mídias sociais foram muito gentis e nos enviaram mensagens lindas. Nossos amigos mais próximos também foram uma base muito importante e a nossa família tem sido primordial para seguirmos em frente. O que eu gostaria de deixar bem claro é que o acidente vascular que atingiu o cerebelo da Angelina não teve nada a ver com a prova que ela participou. Na época fiquei um pouco triste com o que algumas pessoas especulavam sobre o ocorrido. Muitos queriam colocar na conta da prova culpando organizadores e patrocinadores. O que a gente mais precisava naquele momento era equilíbrio para não causar nenhuma injustiça. Não queríamos nos sentir vítimas e fazer desta a nossa causa. Queríamos, sim, mudar o jogo. Aonde muitos viam uma dificuldade, enxerguei uma oportunidade de me tornar um filho, pai, irmão, amigo melhor.
Iazaldir Feitoza escala parte da Chaminé Ely na travessia para a Pedra da Gávea.
Você desbravou uma nova via na Pedra Bonita. Como foi essa descoberta? Ela é acessível a todos? É preciso ter que tipo de condicionamento e experiência para correr ali? Já tem um nome?
IAZALDIR – Nossa! Este caminho que liga a Pedra Bonita a Pedra da Gávea correndo sem auxílio de equipamentos se deu pela necessidade de toda vez que eu precisava subir a Pedra da Gávea ter que ir atá a Barra da Tijuca, sendo que moro em São Conrado. Na verdade, sempre existiu uma subida por São Conrado, mas ela foi fechada por passar dentro de uma propriedade privada. Esta via não é acessível a todos, pois seu nível de exigência é muito elevado e, para tal, é preciso estar muito bem preparado e ter uma noção no mínimo básica de escalada. O nome é “Bonita Angel da Gávea” e, por enquanto, vou desfrutar com meus amigos.
O que você pensa deste universo das corridas?
IAZALDIR – O universo da corrida e incrível e mágico e fico muito feliz em poder presenciar o quanto este universo tem crescido nas últimas décadas, principalmente o número de corredores jovens na faixa entre 20 e 30 anos.
Pensa em se aposentar como atleta profissional? IAZALDIR – Hoje o meu tempo é dedicado a 80% a carreira de atleta e 20% a carreira de treinador isso no que diz respeito à corrida. Todo início de temporada sempre penso que será a última e me questiono se terei condições de continuar competitivo no ano seguinte. Acredito que enquanto me sentir competitivo, continuarei a correr profissionalmente. Quando achar que não estiver mais competitivo, a corrida será apenas parte da minha vida e assim poderei me dedicar 100% a carreira de treinador.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."