Brasil lidera índice de sedentarismo na América Latina. Segundo OMS, 47% dos brasileiros não praticam atividade física recomendada

Estudo da Organização Mundial da Saúde aponta crescimento do sedentarismo no mundo
Estudo da Organização Mundial da Saúde aponta crescimento do sedentarismo no mundo

Estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), divulgado recentemente, aponta que 47% da população adulta brasileira não pratica sequer o mínimo de atividade física recomendada. Esse sedentarismo pode levar essas pessoas a desenvolverem doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e até alguns tipos de câncer. Publicada na prestigiada revista inglesa “Lancet Global Health”, essa é a primeira pesquisa da OMS  que oferece estimativas de atividade física – considerada um dos principais fatores das doenças não transmissíveis – entre 2001 e 20016, que estudou 168 nações em 2016. O estudo, que pesquisou 1,9 milhão de pessoas, é baseado em níveis de atividade em casa e no trabalho, transporte e tempo de lazer, entre adultos a partir de 18 anos.
Os dados apurados mostram que o alto índice de sedentarismo dos brasileiros, o maior das região, eleva a taxa média da América Latina, de 39,1%. O mínimo de exercício necessário, semanalmente, é 150 minutos de atividade moderada (caminhada rápida, natação, bicicleta, jardinagem e dança, por exemplo) ou 75 minutos de atividade intensa (corrida, futebol, trabalho manual pesado e atividades em academias, entre outras).
No Brasil, 47% da população adulta tem uma vida sedentária, considerada perigosa, com um aumento de 15% desde 2001. Entre os homens, o índice é de 40%, enquanto a falta de atividade física necessária para permanecer saudável atinge 53% das mulheres.  Em vida sedentária, segundo o estudo da OMS, o Brasil só perde perde para o Kuwait, onde 67% dos adultos não praticam uma atividade física suficiente para evitar doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e até alguns tipos de câncer, Samoa americana (53%), Arábia Saudita (53%) e Iraque (52%).
Sedentarismo pode levar ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, demência e até alguns tipos de câncer
A pesquisa revela que, no mundo, 1,4 bilhão de adultos – uma entre três mulheres (32%) e um entre quatro homens (23%) – quase 1/5 da população mundial, que hoje chega a 7,6 bilhões de pessoas, se exercitam menos do que o necessário e que também há um aumento significativo, desde o início do século, no índice de sedentarismo em países de alta renda. Nas nações desenvolvidas,  suas taxas de inatividade passarem de 32%, em 2001, para 37%, em 2016. Os maiores aumentos de vida sedentária foram registrados no Brasil, Bulgária, Alemanha, Filipinas e Cingapura.
Já nas nações pobres, nesse  mesmo período, houve um aumento médio de apenas 0,2%. Essas estimativas demonstram que, em 15 anos, não houve um progresso global nos níveis de atividade física.
Segundo Regina Guthold, principal autora do estudo, se a tendência atual se mantiver, a meta traçada pela OMS de que todos os países reduzam em 10% seus índices de sedentarismo até 2025 não será alcançada por praticamente nenhuma nação.
“Ao contrário de outros grandes riscos para a saúde global, os níveis de inatividade física não estão caindo em nível mundial”, alerta Regina. “Regiões que têm níveis crescentes de inatividade física são uma grande preocupação para a saúde pública. Porque quanto menos a população se exercita, mais difícil é prevenir e controlar as doenças não transmissíveis”.

Para Regina, a queda na prática de exercício pode ser considerada um efeito colateral do desenvolvimento urbano:
“A rápida urbanização fez com que as pessoas abandonassem lugares onde deveriam se exercitar para trabalhar, especialmente na agricultura, para se instalar em cidades onde estão desempregadas ou têm empregos na indústria, muita mais sedentárias e nas quais fazem movimentos repetitivos”.
A OMS observou ainda que, em todos os países, com exceção de alguns da Ásia, a população feminina pratica menos exercícios do que a masculina. Uma hipótese para explicar isso é o fato de a maior parte do trabalho doméstico ficar a cargo das mulheres, em parte significativa das nações, o que faz com que elas tenham menos tempo para dedicar à prática regular de exercícios.
Em muitos casos, como em nações do Oriente Médio, as mulheres têm dificuldades para realizar exercícios ao ar livre, por exemplo. Além disso, a gravidez e o tempo voltado para os cuidados com os filhos também podem fazê-las se afastar da atividade física.
Para a especialista em saúde pública Melody Ding, da Universidade de Sydney, o estudo tem importantes implicações políticas:
— A diferença de gênero observada revela uma questão de equidade em saúde que precisa ser resolvida nesses lugares onde as mulheres enfrentam mais barreiras ambientais, sociais e culturais para participar de atividade física.

COMPARTILHE
Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."