Chuva, vento e recorde pessoal na Maratona de Porto Alegre, por Luiza Fellippa Marques

Luiza Fellippa Marques em um dos trechos da Maratona de Porto Alegre
Luiza Fellippa Marques em um dos trechos da Maratona de Porto Alegre

Demorou um pouquinho, mas só agora deu vontade de escrever sobre a Maratona de Porto Alegre, no dia 10 de junho. Precisava descansar!

Alguns dias antes, a previsão do tempo já previa chuva para o dia da maratona e sol para um dia antes da prova. Estava torcendo para, pelo menos, não estar tão frio e ventando.
Mas depois de Boston nada me apavora!

Espaço do Atleta: O filme de terror com suspense de Luiza Fellipa Marques na Maratona de Boston

Foi só entrar no carro para ir para a largada que a chuva começou. Para mim foi tranquilo esperar a largada na chuva. Tinha comprado uma capa de chuva e estava bem agasalhada, com um moletom velho, que abandonei na grade antes de largar. Só fiquei tensa com os raios caindo! 
Não estava muito frio (14/15 graus), temperatura perfeita para correr! Optei por usar short, camiseta de manga curta e manguito, que já baixei no segundo quilômetro.
Não demorou muito começou a ventar… lógico que pensei: Que merda, não estou acreditando! Chuva e vento DE NOVO?! Não ventou o tempo inteiro, mas ventou consideravelmente em vários momentos ao longo da prova.

Inicialmente pensei que não daria para fazer uma boa maratona em função do vento, aí lembrei da Rafaela Bueno em Boston, que mesmo com o tempo horroroso fez uma excelente prova! Então Luiza, pare de ficar se lamentando e senta o pé, dê o teu melhor e seja o que Deus quiser… Aí foquei! 

Luiza Fellippa Marques em um dos trechos da Maratona de Porto Alegre

Lá pelo 5/6km ouço meu nome, era o Daniel Cabral (amigo do NRC), corremos quase toda a prova lado a lado.
Sempre começo a me sentir melhor a partir dos 10km, aí minha prova começa!  
Desde o começo fiquei no pace planejado, entre 4m50s e 4m55s, sempre segurando para não fazer abaixo. O pace estava bom, confortável, mas mesmo assim sabia que no final de maratona o cansaço muscular sempre chega!
Nesta prova alternei géis de carboidratos com bala de coco a cada 30 minutos, pra mim funciona melhor desta forma.
Corri quase a prova toda me sentindo muito bem, e os ventos foram enfraquecendo. No Km 21 bateu um cansaço nas pernas, mas logo passou e só voltou no Km 37. Faltava só 5km e o cansaço esperado veio! As pernas começaram a pesar a cada km, mas faltava tão pouco, e eu estava indo tão bem, não poderia deixar meu objetivo escapar assim tão perto do final! 
Fiz força, MUITA FORÇA para não deixar o pace subir muito. O pace subiu pouco, foi para 4m57s/4m58s, não deixei subir mais que isso!
Faltando 3km começaram as ameaças de câimbras. Mudei um pouco a mecânica para aliviar algumas musculaturas para aguentar até o final. Que bom que as câimbras não vieram com tudo!
Reta final normalmente é isso (principalmente quando você quer performance) mesmo exausto você tem que aguentar dor, desconforto, cãibras, é MUITA SUPERAÇÃO!!!
Faltando 2km… parecia um campo de guerra! Muita gente parada com câimbras, mancando, caminhando… tenso!
Na placa do Km 41, olhei o relógio e pensei… vamos pra cima, a hora é agora, após a linha de chegada não poderei fazer mais nada! Boraaaaaaa!!!
Acelerei, fiz o último km a 4m43s e os 300m finais a 4m23s.
Não conseguia enxergar as pessoas na chegada, só escutava alguns gritos… Vai Fellippa!

Não consegui nem chegar sorrindo como gosto, estava no meu limite!

Finalizei a prova em 3h27m19. Baixei 33 segundos do meu melhor tempo.
Bati meu recorde!

Peguei índice para Boston pela terceira vez (antes que perguntem… não irei novamente para Boston. Fui duas vezes e já está bom).
Fiquei feliz, é claro! Mas não estou satisfeita. Treinei para fazer melhor que isso e sei que posso ir além! Lógico que sei que o vento contra e ter que ficar desviando de poças d’água não foi favorável.
Tudo isso não se trata de querer provar algo para alguém, é um desafio pessoal!
Eu tenho alma e cabeça de atleta, gosto de treinar pra valer e me desafiar, e não desistirei até chegar onde acredito que possa chegar!

Ser assim pode ser muito bom, mas pode ser ruim também… pois insisto, sou incansável e isso pode acabar não sendo tão saudável!
Gostaria de agradecer ao meu fisioterapeuta Fabio Paes Leme, que vem fazendo um ótimo trabalho comigo semanalmente desde fevereiro e colaborou muito para eu estar sem nenhuma dor mesmo após duas maratonas seguidas.
Obrigada pela torcida Mario Sergio De Souza Marques , Ana Paula Pulga , Fernanda Mardini Lopes , Marcus Vinicius Kruel e todos os amigos do Rio e do Instagram que cruzei pelo percurso e me incentivaram.
E obrigada pela parceria durante quase toda a prova Daniel Cabral. Obrigada Body Pulse pelo excelente trabalho (eletroestimulação). Minha musculatura realmente está mais forte e resistente.
Luiza Fellippa Marques

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."