Seis personagens. Seis histórias. Um ponto em comum: o amor pela corrida. Esta é a linha condutora do documentário “Vida Corrida”, que o canal por assinatura Globonews reapresenta neste domingo (22/5), a partir das 9h05m. O Blog conversou com Angélica Brum, responsável pelo roteiro, ao lado de Rafael Norton, e pela produção para saber de onde veio a inspiração e que mensagem o “Vida Corrida” quer passar aos telespectadores. Jornalista, Angélica escolheu a corrida para deixar o sedentarismo de lado, seguindo orientação médica, e depois se tornou uma “dependente” da atividade física. Hoje, se diverte ao lembrar que doava sangue para ganhar presença nas aulas de educação física na faculdade, “a pior matéria do meu currículo em toda vida de estudante”.
Iúri Totti: Por que fazer um documentário sobre corrida?
Angélica Brum: A ideia do documentário surgiu durante o pitching da Globonews, o canal por assinatura onde sou editora executiva de programas. Tinha acabado de ler o “Do que eu falo quando eu falo de corrida”. Talvez mais do que tratar sobre corrida, ou do que a gente pensa enquanto corre, o livro me inspirou a acreditar nas minhas histórias. O Haruki Murakami é um dos maiores escritores do mundo e, ao longo do livro, ele insiste que todos nós temos boas histórias para contar. Basta acreditar. Acreditei e apresentei o projeto sozinha. As ideias estavam soltas ainda. Sabia que queria falar de pessoas que, como eu, tinham a corrida como centro da rotina. Aliás, como eu e o Murakami. Sentiu a pretensão?!!!
Angélica Brum na Meia Maratona de Buenos Aires
Iúri Totti: O que te motivou a fazê-lo?
Angélica Brum: A motivação, como disse, foi o Murakami. Tentei até um contato com ele. O máximo que consegui foi uma resposta do agente dizendo que ele não dava entrevista etc. Depois, a motivação veio da própria direção do canal que, em poucos minutos de exposição, se mostrou entusiasmada com a ideia.
Assista uma das chamadas do documentário “Vida “Corrida”
Iúri Totti: Por que vocês escolheram contar a história desses personagens?
Angélica Brum: Originalmente, eram quatro personagens: o baleiro da minha rua, que toda semana ia trabalhar com uma medalha diferente no peito, o seu João, sempre com bons resultados na equipe da Rocinha. A esteticista Zezé Nascimento, que passou dois anos cuidando de mim, sem que eu soubesse de nenhuma das façanhas dela no mundo das corridas. A mulher era uma fera com pele de porcelana. E você, Iúri, que conhecia de vista, seguia pelo blog e havia me impressionado com a história das três maratonas num único mês. Também me chamou a atenção o caso de um tal “cachaça runner”, um cara que, segundo um professor da academia, corria e bebia na mesma medida. Com o projeto já aprovado, a chefe da redação de programas me sugeriu o nome da Animal. Eu conhecia a Ana de vista, da minha primeira São Silvestre. Como esquecer daquela figura? Quando íamos filmar a última corrida, decidimos incluir um personagem que estivesse começando e chegamos à Marília. Uma ideia do Rafael Norton, a primeira pessoa que pensei em convidar para trabalhar comigo. Talvez tenha sido a segunda decisão mais acertada depois da coragem de apresentar a ideia. O Rafael é roteirista, cinegrafista, editor, diretor, tudo.
Os personagens do documentário “Vida Corrida”, com Angélica Brum e Rafael Norton
Iúri Totti: Qual a inspiração para o título “Vida Corrida”?
Angélica Brum: O título surgiu de uma conversa entre a produção e a chefia. Fizemos uma votação e chegamos a este nome.
Iúri Totti: Quanto tempo durou a produção do documentário?
Angélica Brum: Mais de um ano. Na verdade, continuamos tocando nossos projetos de trabalho individuais no canal.
Iúri Totti: Qual a mensagem que vocês querem passar com o documentário?
Angélica Brum: Corra!! Não necessariamente. Mas se puder passar alguma mensagem que seja: procure encontrar algo que seja só seu. Um lugar para onde você possa voltar. Ou correr.
Iúri Totti: Qual sua relação com a corrida?
Angélica Brum: Dependência. Estou há quase cinco meses sem correr e me descobri irremediavelmente dependente. Fui sedentária até quase os 30 anos. Sedentária mesmo. Um pico hipertensivo, depois de dias intensos de trabalho, me levou a um cardiologista. Na consulta, ouvi que, naquele momento, tinha a oportunidade de decidir como gostaria de envelhecer. Levei a sério o conselho e comecei meu condicionamento numa clínica de reabilitação cardíaca com pacientes infartados, idosos. Acho que esse início, lá com o dr. Claudio Gil, foi decisivo para alguém tão mal condicionado e, ao mesmo tempo, cdf, como eu. A partir daí, não parei mais de me movimentar.
Iúri Totti: Quantas provas você já disputou?
Angélica Brum: A corrida só virou rotina para mim quando passei a participar de provas de rua. E isso aconteceu depois deu um convite para uma maratona de revezamento na empresa. Descobrir aquele mundo de pessoas todas as manhãs no Aterro mexeu comigo de alguma forma, de uma sensação de pertencimento a alguém que jamais havia participado de um esporte de equipe. Quantas provas? Nunca contei. Mas sei que já foram 15 meias maratonas. Uma delas abaixo de duas horas.
Iúri Totti: O que a corrida te ensinou?
Angélica Brum: A corrida me ensinou que tenho para onde voltar. Já festejei alegrias, superei dores, vivi dias absolutamente comuns correndo. Neste fase, quando estou parada, sinto falta dessa sensação de normalidade. Da ideia de “afinal, se eu posso correr, nada pode estar tão mal assim”. Por isso, só penso em voltar.
Iúri Totti: O que você destaca do documentário? Em que as pessoas devem prestar atenção no documentário?
Angélica Brum: A narrativa que a gente escolheu para contar é o destaque para mim, depois das histórias, claro. Como contar tantas histórias dando voz a todo mundo? E a gente conseguiu, na minha avaliação, de uma forma feliz. Sem detalhes para não estragar a surpresa. Até porque o mais importante, de verdade, é corresponder a confiança de quem se abriu tanto e tocar o público. É um documentário? É vida real? Sim. Mas nem sempre linear. Como a vida de um corredor, como a vida de todos nós. Prestem atenção em tudo. Vejam várias vezes. Eu ainda não me cansei. A cada sessão, tenho um personagem favorito, encontro uma história mais bacana.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”
Republicou isso em Augusto Cruze comentado:
Caro Iuri, assisti ontem ao documentário. Gostei muito! Parabéns pela participação e por sua determinação. Espero que já esteja totalmente recuperado de sua lesão. Publiquei um livro sobre corrida, se puder, dê uma olhadinha aqui: http://www.oitoemeio.com.br/loja/autoria/corredor-um-estilo-de-vida/ O livro tem o mesmo tom do documentário, pois é feito por um corredor comum, como você e as demais personagens do documentário. Pode ver mais em minha página do Facebook, tanto a pessoal (Augusto Cruz), quanto na do livro (Corredor: Um estilo de vida). Abraço, Augusto.