Não existe distância que seja capaz de impedir a determinação de um atleta no esporte, principalmente quando a motivação é superar seus limites. Pensando nisso, Cristiano Marcelino decidiu cruzar o Oceano Atlântico para correr aquela que será a sua 60ª prova. O destino é Portugal, que entre os dias 25 de setembro e 8 de outubro será o ponto de encontro dos maiores ultramaratonistas do mundo. O desafio é a PT-1001, com 1.001km em 14 dias seguidos, cruzando o país de Norte a Sul.
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Essa não será a primeira vez que Cristiano Marcelino disputará uma ultramaratona no país lusitano. Em 2019, ele participou da prova PT 281 e agora ele volta pronto para encarar a PT-1001, que requer foco, preparação e determinação. Nesta entrevista, o ultramaratonista, que também é bombeiro militar, falou sobre o desafio, sua rotina de preparação e expectativa para a prova.
Iúri Totti: Como você concilia seus treinamentos para ultras com a profissão de bombeiro militar?
Cristiano Marcelino: Como trabalho em escala de plantão não é tão difícil conciliar, pois mesmo nos dias de serviço no quartel eu treino mais cedo. Até mesmo após os plantões exaustivos de mais de 24 horas eu treino, pois na prova será assim. Estarei muito cansado e terei que iniciar mais um dia.
IT: Como está sendo sua preparação para esta prova?
CM: Venho de uma preparação para outras ultramaratonas. Esta prova vai acontecer três meses após a minha última, que foi a de 100 milhas (160km), nos Estados Unidos. Atualmente, estou no pico do treinamento, que consiste em uma rotina de corridas diárias por quatro semanas, sem um dia de descanso, visando simular um pouco da prova. Tenho feito treinos ritmados, tiros, longos e regenerativos.
IT: Que dia você viaja para Portugal?
CM: Viajo no dia 21 de setembro, chegando três dias antes da PT-1001 começar. Poderia até chegar um pouco antes para uma melhor aclimatação, mas terei 14 dias de prova e essa aclimatação também fará parte dessa jornada.
IT: Como a prova exige que o atleta seja autossuficiente, o que você leva na mochila durante as etapas?
CM: É obrigatório levar um telefone celular funcionando, um rastreador fornecido pela organização e um aparelho de GPS para navegação no percurso, já que não há marcação durante os 1.001 km de prova. Também levo minha hidratação e alimentação necessária para cumprir cada etapa, que tem média diária de 71km. Não há postos de abastecimento fornecidos pela organização durante os percursos diários.
IT: Essa será sua 60ª ultramaratona. Aonde você quer chegar?
CM: Atualmente, com 41 anos de idade, estarei competindo pela 60ª vez. Eu nunca desisti de nenhuma e meu objetivo é continuar competindo pela vida inteira, traçando e superando objetivos.
IT: Como começou a sua paixão por ultramaratonas?
CM: Começou aos poucos. Participo de competições desde 1998 em diversas distâncias. Somente após dez anos é que fui para maratona e, em seguida, para a ultramaratona, onde eu realmente encontrei meu tipo de prova. São 13 anos competindo em ultras.
IT: O que te move nas ultramaratonas?
CM: Basicamente duas coisas: o desafio, que é traçar uma meta ousada, ou para muitos quase impossível, e ir lá fazer. Depois é ser motivação para outras pessoas. Muitas entram em contato comigo querendo superar seus objetivos. Gosto muito de ajudar.
IT: Qual foi a prova que marcou positivamente?
CM: Foram muitas que me marcaram positivamente, mas certamente tenho na linha de frente algumas icônicas, como a Western States Endurance Run (100 milhas), nos Estados Unidos. Também a Badwater Ultramarathon (135 milhas), a Arrowhead Ultramarathon (135 milhas), ambas nos Estados Unidos, e a Ultra-Trail du Mont-Blanc (171km), que acontece entre a França, Itália e Suíça.
IT: E negativamente?
CM: Negativamente foram algumas provas que tiveram problemas por parte da organização, mas não me arrependo de ter feito nenhuma. Costumo dizer que o ultramaratonista é um grande gerenciador de crise e deve saber superar as dificuldades.
IT: O que você aprende com as ultras?
CM: Aprendo tudo! Como eu disse, preciso gerenciar todos os meus problemas nas muitas horas que compõem cada ultramaratona. Por mais que haja ajuda externa, a maioria dos problemas tem que ser resolvidos exclusivamente por mim e isto podemos aplicar para a vida inteira. Resolver todos os seus problemas durante uma prova. Assim aprendemos muito com os nossos próprios erros.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”