Danielzinho revela um sonho: ser recordista mundial na maratona

Danielzinho vai correr a meia maratona da Maratona do rio, neste sábado, com chances de superar recorde de Marilson Gomes dos Santos. (Foto de Guilherme Leporace/Divulgação)
Danielzinho vai correr a meia maratona da Maratona do rio, neste sábado, com chances de superar recorde de Marilson Gomes dos Santos. (Foto de Guilherme Leporace/Divulgação)

No Rio de Janeiro para participar da meia maratona da Maratona do Rio, neste sábado (18), com chances de superar o recorde sul-americano de 59m33s, de Marílson Gomes dos Santos, em 2007, Daniel Nascimento, o Danielzinho, de 23 anos, mostrou toda sua simpatia para o público que foi vê-lo no painel “A trajetória de um campeão”, que aconteceu nesta quinta-feira (16), na Casa da Maratona, na Marina da Glória, ao lado de dois de seus ídolos Ronaldo da Costa e Franck Caldeira, da mulher Grazi Zarri, do treinador Jorge Luiz Silva, o Jorginho, e do jornalista Bruno Cortes. Nesta entrevista exclusiva ao Corrida Informa, o recordista sul-americano de maratona, com o tempo de 2h04m51s, fala do belo momento que está vivendo.

Como você se sente sendo recordista sul-americano de maratona e dono de um dos três melhores tempos de um corredor não africano?

Danielzinho: Eu estou muito feliz. Era um sonho desde criança romper essa marca. Eu já estava me preparando para isso em Valência, mas foi uma prova muito difícil, que ventou muito. Porém, foi nesse momento que testou não só minha resiliência, mas como minha persistência de continuar em busca desse recorde. Eu decidi voltar ao Quênia para me preparar mais, com atletas muito mais fortes. Foi então que, em Seul, consegui me sobressair e romper a marca de 2h06m05s, obtido por Ronaldo da Costa na Maratona de Berlim, em 1998, que já durava 24 anos. Foi uma adrenalina, uma coisa inexplicável que passou pela minha veia que um dia eu espero que aconteça de novo!

Recordes foram feitos para serem superados. Como foi superar a marca do Ronaldo da Costa, que durava mais de duas décadas? Como você se preparou para este momento?

Danielzinho: Além da preparação no Quênia, na hora da corrida, bem no finalzinho, eu estava junto com os dois etíopes e, quando eu entrei no estádio, passou um filme na minha cabeça a poucos metros pra a chegada. Foi naquele momento que falei pra mim mesmo: “Eu consegui! Eu não estou acreditando!”. Foi uma emoção que eu não sabia como comemorar.

Quais são suas expectativas para o futuro? Faz uma projeção de qual será sua melhor marca e quando ela vai ser obtida?

Danielzinho: Eu acredito no meu potencial. Eu faço um trabalho a curto e a longo prazo. A curto vão ser as Olimpíadas de Paris, em 2024, para superar o que aconteceu na última, quando passei mal por falta de glicose. Eu sei que é um passo, um degrau por vez, mas futuramente eu quero também tentar ser um dos concorrentes ao recorde mundial. Eu quero ver se é possível correr abaixo de duas horas. Acredito que, treinando ao lado dos melhores do mundo na África e com muita persistência e trabalho duro, é possível alcançar o sucesso. 

A que você atribui sua conquista?

Danielzinho: São as pessoas a minha volta. Quando você está com pessoas que te motivam, que torcem muito por você, que acreditam que você pode ir cada vez mais longe, é o que te leva ao sucesso.

Por que a marca do Ronaldo da Costa, que chegou a ser recorde mundial, demorou tanto tempo para ser batida por um sul-americano?

Danielzinho: Sabe que isso é uma coisa que muitas pessoas me perguntam até mesmo no Quênia?. Em 1998, o Ronaldo foi a primeira pessoa da história a correr abaixo de 3 minutos por quilômetro. Foi algo histórico. Tão impressionante ao ponto de os africanos estudarem com os brasileiros. Hoje, o recorde foi baixado até 2h01m, mas isso levou tempo. O Ronaldo da Costa mostrou que era possível para sul-americanos – e agora africanos – correrem abaixo de 3 minutos por quilômetro. Eu acredito que, sem preparação a longo prazo, seria impossível quebrar essa marca. Se eu não tivesse, lá atrás, focado neste objetivo, o recorde sul-americano estaria aí até hoje.

O que deve ser feito para que a sua conquista sirva de exemplo para futuros maratonistas?

Danielzinho: Sempre procurar trabalhar com os melhores. Isso eu aprendi com os anos. Além disso, trazer as pessoas que tenham o mesmo sonho que você para que, juntos, todos ganhem. Se um ganha, todo mundo ganha. Durante um tempo eu passei por momentos difíceis e, por isso, decidi ir ao Quênia com as pessoas que escolhi estarem à minha volta, que me mostraram qual é meu potencial. Descobrir esse potencial e estar junto com a família, com amigos, namorada ou esposa, não tem preço.

Olhando para sua história, imaginava estar aonde está? E isso te faz querer chegar aonde?

Danielzinho: Eu sempre sonhei com esse momento. Sempre trabalhei duro esperando chegar aqui. Às vezes, os jovens não têm paciência como uma pessoa mais madura tem. Eu sempre foquei em nunca desistir. Mesmo quando passei por momentos difíceis, que me fizeram sair um pouco do meu caminho, tive pessoas fundamentais que me devolveram aquele sonho. Como minha mãe que, quando eu decidi voltar a trabalhar na roça, me mostrou o esporte de volta. É isso que desenvolve o seu potencial, o seu sonho, quando você quer conquistar.

Um sonho?

Danielzinho: Trazer o recorde mundial de volta pra gente.

O que te move?

Danielzinho: São as pessoas. É saber que tem pessoas que estão pensando: ‘tem alguém brigando por nós, representando nosso país’.

Um ídolo?

Danielzinho: O queniano Eliud Kipchoge (bicampeão olímpico e recordista mundial) e o Ronaldo da Costa são caras fora de série. Eu os admiro muito e acompanho a história deles. Um que representa muito pra mim é o Ayrton Senna. Ele me fez rever o meu desenvolvimento pessoal como atleta. Eu não era nascido quando ele morreu (1994), mas lembro da minha mãe falar dele, que as pessoas acordavam para ver ele na TV. Ele serviu de exemplo para muitos atletas continuarem acreditando nos seus sonhos

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."