Eu poderia dizer que completei mais um UTMB (Ultra Trail du Mont Blanc), mas a verdade é que essa viagem foi muito mais do que a minha corrida. Foi a realização de um sonho, que era estar em Chamonix com minha família. Era mostrar pra minha filha o espírito mágico das montanhas, a energia que envolve esse esporte incrível chamado trail run.
E eu consegui!
Quando vi Maria em Argentière gritando “Allez Allez” enquanto os atletas passavam do MCC.
Cadê papai? E ela não tirava os olhos da montanha, esperando ansiosamente papai aparecer.
Maria curtiu cada instante!! Correu com André e vibrou ao cruzar a linha de chegada em Chamonix de mãos dadas com seu “papai herói”.
E chegou o grande dia! Não… não é o UTMB!! É o mini YCC! E lá estava a dinda Carol e o tio Dave para ver Maria correr sua prova de 400m! A corrida reservada para crianças de 3 anos foi uma festa, e quando deu a partida lá foi Maria disparada!! O terreno era de grama com um suave aclive, em um percurso semi circular. Com 300m ela parou.
– Tô cansada, mamãe
E com cara de choro disse… vou parar! Eu segurei a mão dela e mostrei a linha de chegada. Falta pouco! Vamos juntas!! Ela sorriu e acelerou!!! Passou pelo pórtico e festejamos com a família toda e muito sorvete!
A noite eu perguntei o que ela mais gostou do dia dela. A resposta foi : passar a linha de chegada.
Eu sorri feliz!!
Só faltava eu correr!!
E admito que tinha esquecido como era difícil esse tal de Ultra Trail Mont Blanc! Talvez a prova fosse até mais fácil mesmo em 2014, já que houve algumas mudanças no percurso que atualmente chega a mais de 170km, ao invés dos 160km que eu havia corrido.
Rosália Camargo em um tercho da UTMB 2018Enfim… poderia escrever horas e horas sobre minha saga nesse UTMB frio e chuvoso, mas de forma resumida posso dizer que fiz o meu melhor! Corri feliz e me sentindo plena. Nesse ano curti cada segundo nesse ambiente incrível! Infelizmente torci o pé na descida a caminho de Trient, quando pisei em uma pequena raiz e a partir desse ponto reduzi muito a velocidade para descer.
Perdi firmeza na perna esquerda. Continuei alegre, mas ciente de que o sonho das 30 horas estava morto.
Segui com o plano B… que era chegar! E assim foi… com 35 horas eu estava de volta à Chamonix, com uma sensação de felicidade plena, com a certeza de que definitivamente correr ultras é algo que me encanta com todos seus desafios, dificuldades e surpresas.
A alegria de Rosália Camargo após os 170km do UTMB 2018Essa corrida me lembrou que é preciso nunca desistir, é preciso ter paciência com as subidas intermináveis, resistência ao frio incomum, cuidado com a alimentação e o mais importante… saber aproveitar cada instante e agradecer pela saúde e oportunidade de estar ali vivendo tudo isso.
Rosália Camargo
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”
Obrigada!! Ficou show
Obrigada!! Ficou show