Espaço do Atleta: a estreia de Wagner Romão no trail run

Wagner Romão na XC Run Itaipava, sua estreia no trail run
Wagner Romão na XC Run Itaipava, sua estreia no trail run

Nesse final de semana (1/7), aventurei-me numa prova de trail run. Pra quem não sabe, o trail run ou corrida de montanha (nomes em português) é tipo o MMA da corrida de rua. Vale tudo. Morro, lama, trilha, estrada de terra, grama, pasto, cerca, rio, escada, sobe, desce, sobe muito, desce muito. Enfim.

Mas não confundam com corrida de aventura. Numa prova de trail, o atleta não está preocupado com o balizamento ou com a orientação. Todo o percurso é milimetricamente balizado com fitas a cada 5 ou 10m e equipes de staff são distribuídas ao longo de todo o percurso. Uma outra características dessas provas é a distância. Geralmente essa turma gosta de andar 50Km, 80Km, 100Km, 150Km. Enfim, eles gostam da famosa frase “está bom porque é ruim, seria melhor se fosse pior”.
Bom, após essa pequena introdução, lá fui eu estrear em minha primeira prova de “trail”, nos meus singelos 12Km (corri uma prova de 50Km em uma equipe de 4 atletas).
Como um bom corredor “nutella” (assim são chamados os corredores de asfalto pelos trilheiros), não tinha tênis de trilha, não tinha camelback, não tinha bastão, não tinha um lencinho maneiro que eu vi que todo mundo usa no pescoço, muito menos um casaco maneiro da “The North Face”. E aos poucos a galera foi me ensinando.
Quase parti pros meus 12Km sem água e sem gel. Depois de muita insistência, acabei aceitando levar água e foi minha salvação. Um grande ensinamento é que em trilha não se mede distância, se mede tempo de prova. E a previsão de prova pro meu trecho era de 1h30m de corrida. Ou seja, teria que levar água e pelo menos um gel.
Uma outra coisa bem legal que aprendi é “GPS aqui serve pra medir distância e frequência cardíaca”. Esqueça a palavra pace. Meu primeiro Km foi 4m20s, pois corri num terreno mais aberto e o segundo foi 11m20s pois começou uma subida dos infernos.

O percurso da XC Run Itaipava

Outra coisa bem bacana que essa corrida proporciona aos atletas é o autoconhecimento. Por não haver muita referência de velocidade (pace), a prova é medida o tempo todo pelo famoso “PSE” (percepção subjetiva de esforço). Você passa a controlar sua prova única e exclusivamente por esse método e isso é sensacional. Te traz de volta ao primeiro fundamento que o atleta deve aprender antes de comprar os equipamentos mais modernos, como GPS, potenciômetro e etc. Antes de qualquer outro tipo de informação, saber ouvir o próprio corpo é uma arte, e estamos perdendo isso para os equipamentos. Muitas vezes as famosas “quebras” estão diretamente associadas ao fato do atleta não escutar o que o corpo dele vem avisando há vários quilômetros.
Por fim, e acredito que o ponto alto desse esporte, o contato com a natureza. Tudo bem que contemplá-la durante uma prova como essa é questão de segundos, pois o cronômetro não para. Mas não tem comparação com uma prova no asfalto. Montanhas, rios, lagos, árvores seculares, ar puro e fresco, tudo isso é o grande cartão postal e um grande revigorante ao longo da prova.

Wagner Romão e Érika Valoni

Bom, como um estreante nutella em minha prova de trail run, posso dizer que a experiência foi sensacional.  Minha admiração por essa trupe cresceu ainda mais. Os atletas mais fortes nesse tipo de prova são verdadeiras máquinas de subir e descer morro. Além da força e de um VO2 invejáveis, eles têm uma técnica de trilha impressionante. E não posso me esquecer das mulheres, claro. Nesse tipo de prova, percebi que as mulheres fazem tempos surreais. Acho até que elas “atravancam” o mato com menos “mimimi”. Sensacional!!!!
Aproveito para parabenizar meu querido amigo Bernardo Tillmann, organizador do evento. A XC é uma prova super bem organizada, com um balizamento impecável, com ótima hidratação. Enfim, prova mais que recomendada pra quem quer se aventurar nesse estilo de corrida. E é isso, nos vemos novamente na XC Búzios (21 de outubro), onde, ao invés de 12Km, farei 21Km, compondo uma dupla mista com Érika (Valoni), que me trouxe pra essa bagaça e me ensinou um monte.
Valeu demais, galera! Obrigado pela acolhida. Galera da VELOX e da MLMixRun, vcs são top demais!!!
Agora deixa eu voltar pra minha nutelice, porque o 70.3 está aí e tenho muito asfalto pra empurrar até lá.
Wagner Romão

COMPARTILHE
Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."