O carioca Jorge Augusto Guimarães Barroco, de 30 anos, tinha uma missão na Maratona do Rio, no último domingo (29/5). Ele queria vencer o medo de correr os 42km da prova, principalmente no trecho da Avenida Niemeyer. “Eu tinha um medo absurdo de fazer a maratona. Eu pensava várias coisas e isso travava a minha mente. Pensava muito na Avenida Niemeyer. Tinha medo de “quebrar” ali, contou ele em sua entrevista para este blog na semana passada. Depois de dois dias correndo, Jorge conseguiu completar os 126,5km, e eliminar o temor dos 42km. A seguir, o relato do ultramaratonista. Os primeiros 42km:
Largada prevista para as 17h do dia 28/05, acabei saindo às 17h28m, no Pontal, no Recreio, mesmo local da largada da Maratona do Rio, às 7h30m do dia seguinte. Por volta das 16h já haviam amigos queridos, como Anna Lúcia, Washington Luiz e Verônica Sifuro, que ainda foi me buscar no caminho para a largada. Descontraímos um pouco a espera do Alexandre Araújo. Ele iria me escoltar de moto por 30 quilômetros, exatamente até a descida da Avenida Niemeyer.
Após a largada, encontrei com o Rodrigo Rocha, pai do corredor especial Biel, nos cumprimentamos e eu segui. Já na Barra da Tijuca, eu estava me sentindo muito bem e decidi não parar para fazer a refeição programada. Resolvi caminhar enquanto realizava esta refeição. Após isto, ainda caminhei por 12 minutos, onde encontrei com a Raquel Oliveira e o André, ambos pararam para falar comigo e me incentivar. Mais tarde, chegava a tão temida Avenida Niemeyer, um dos motivos do meu desafio. Consegui passar por ela sem maiores dores ou cansaço. Ao chegar no Leblon, a surpresa. A Juliana Gomes estava lá para me acompanhar junto com a Marcelle Perazzo, que estava de bicicleta para guardar as bolsas, já que o Alexandre, também inscrito na maratona, precisava dormir para correr seus 42k na manhã seguinte. Chegamos no Aterro por volta das 23h e encontrei com Aline Aires e os amigos que estavam chegando para dobrar a maratona: Alexandre, Juliana, Marcelle e Aline. Eles me deram muito apoio nesta primeira parte e eu só tenho a agradecer. Até jantar eles levaram para mim.
A segunda parte:
Marcamos de sair à meia-noite do dia 29/05, mas acabamos saindo as 0h40m. Alguns amigos tiveram problemas com o trânsito, como Marcus Vinicius, que nos acompanhou com seu carro durante todo o percurso. Fui mais tranquilo do que na primeira parte. Fomos descontraindo, conversando, cantando, trocando experiências sobre outras provas. Eu estava junto de Junior, Kerlaquiam Junior, Alexandre Dias, Adilson Vieira Gallo, Fabiola Otero, Francisco Lira Roberto Ken, Francisco José Lira Lima, Christiane Roberto. Fomos até o Joá juntos. Eu diminui o ritmo e ficaram comigo o Adilson Vieria Gallo e o Alexandre Dias. Logo depois aquele “mundo que não tem fim” chamado Reserva… Ali estava eu pela segunda vez. Cheguei meia hora antes da largada oficial. Muita gente já se preparava para correr, e eu demorei a achar o carro de apoio para pegar minha bolsa e guardar no guarda volumes. A corrida começou e eu ainda estava guardando a bolsa.
Os últimos 42kms:
Com a largada já iniciada, não encontrei com a amiga Giselle. Consegui encontrar com os amigos Hanna Cabral, Cleiton Mendes e Felipe Duest, que largaram comigo, por último. Quando eu estava indo para a Reserva, a galera já começava a voltar. Muitos me incentivavam, me chamando de louco, e assim foram os primeiros quilômetros. No km 3, comecei a sentir enjoo e, ao me abaixar, veio a dor na costela que fraturei num acidente de carro no Domingo de Páscoa deste ano. A dor começou a incomodar muito, mas a Hanna e o Cleiton foram comigo até a Barra.
Quase na altura da Avenida do Pepê, o carro do corte da prova nos alcançou e fomos informados de que ou entravamos no ônibus ou estaríamos sem apoio. Eu agradeci e avisei que iria pela ciclovia e que estava por minha conta. Pedi que Hanna e Cleiton fossem na frente e avisassem a todos os meus amigos que, se não desse para correr, eu iria caminhando, mas não desistiria e chegaria no Aterro. Fui caminhando e trotando por muitos quilômetros, até chegar na Niemeyer pela terceira vez. Já estavam desmontando a sinalização, e eu só pensava em chegar, independentemente de ter pórtico de chegada ou não. Sabia que meus amigos não iriam desistir de mim e que estariam lá me esperando a hora que fosse.
Com este pensamento, voltei a trotar e a correr com mais velocidade em Ipanema e Copacabana, até chegar à Enseada de Botafogo, onde de longe avistei os amigos Willian Nicacio, Juliana Gomes e Paulo Costa. Chamei por eles e, apesar de distantes, a Juliana olhou para trás e eles vieram me buscar. Mais à frente estavam todos os outros amigos do Grupo Correndo Juntos me esperando, ansiosos e preocupados com a demora. Mas eu estava certo: eles não me abandonaram, não desistiram, me aguardaram até o final, com cornetas, confetes e tubos de papel colorido. Aquela imagem nunca vai sair da minha mente. Quem tem amigos verdadeiros tem tudo na vida.
Mas ainda não tinha acabado a surpresa, a cereja do bolo era eu pegar a medalha desta edição da Maratona do Rio e dar para a Juliana Gomes como forma de agradecimento, já que tudo isso começou com ela me dando a medalha dela de 2015, após descobrir que eu fiz uma ultramaratona no percurso da Meia Maratona, para ir buscar e trazer até a linha de chegada todos meus amigos.
Jorge e Juliana com as medalhas das maratonas do Rio de 2015 e 2016
Durante o trajeto, coloquei a medalha que ela me deu em 2015 no pescoço e, ao completar o desafio, coloquei nela a medalha deste ano. Com tudo isso, mostrei para mim mesmo que sou capaz de muito mais do que imagino e que medos podem ser transformados em desafios.E desafios devem ser superados. Agradeço muito a todos os envolvidos em me ajudar, todos que me deram apoio. No ano que vem estarei novamente na Maratona do Rio e, como a vida é movida a desafios, tentarei terminar a prova em menos de 4 horas. Acho que agora ficará um pouco mais fácil, pois conheço bem o caminho.
Jorge Augusto Guimarães Barroco fez os 126,5 km em 21h08m, com tempo líquido de 19h08m _ todas as paradas feitas somaram duas horas.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."
1 Comentário
Show de Bola! Eh isso ai mlk! Meta alcançada, agora foco nos 50k do xterra q vai ser moleza pra tu
Show de Bola! Eh isso ai mlk! Meta alcançada, agora foco nos 50k do xterra q vai ser moleza pra tu