Há dois domingos (29/6) estive entre os 8.500 atletas que cruzaram a orla do Rio de Janeiro, num total de 42 quilômetros e 195 metros, durante a 14ª edição da Maratona da cidade. Essa foi a sexta vez que encarei a distância, quarta no Rio de Janeiro. Antes de 2016, também completei a prova em 2010, 2012 e 2013.
Apesar de já não ser mais um novato nas corridas, correr uma maratona continuar a mexer muito comigo. Mesmo com o frio na barriga, que faz parte dos momentos que antecedem provas longas, dessa vez, em particular, o meu sentimento para a prova era muito mais sereno. Sabia que não seria fácil e também tinha consciência das minhas limitações, do que tinha treinado e o que podia ser feito. E tinha certeza que poderia chegar mais uma vez.
André Sant’Anna nos últimos quilômetros da Maratona do Rio
Sempre que vou fazer uma prova longa tento ensaiar mentalmente como será minha corrida. Qual vai ser a estratégia, como vou administrar minhas dores, qual será meu pace médio em cada um dos trechos. Mais do que isso, sempre busco leituras e vídeos que possam me motivar. E num dos vídeos que eu vi no último sábado, véspera da Maratona, um falava sobre a oportunidade de correr.
A frase me marcou e pensando nisso eu larguei às 7h30 da manhã, no Recreio dos Bandeirantes. Passada a euforia inicial e à medida que imprimia meu ritmo e deixava quilômetros para trás, a frase martelava ainda mais. Indiferente à dor que começava a incomodar e ao tempo que iria levar para completar a prova, pensava naquela oportunidade de estar ali. De mais uma vez poder correr e poder dividir com conhecidos e estranhos algumas horas. Lembrei das vezes que não pude correr, por conta de outros compromissos, ou mesmo lesão.
Correr é mesmo uma oportunidade e, para mim, nunca será uma obrigação. Estar na Maratona do Rio, uma das mais bonitas do mundo, é um privilégio enorme. Por isso, quando completei a prova, mais uma vez cheio de orgulho, eu agradeci. Pouco importa o tempo, as dores e as dificuldades que enfrentamos para chegar até ali. Como diz o ditado, “a dor é passageira e o orgulho é para sempre”.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”