Ultramaratonista, Flávio Loureiro descreve neste relato como foi a participação de sua mulher, Steliane Teixeira, na Nit Ultra Run 12 horas, que aconteceu no dia 4 de março, em Niterói.
DOS 5 AOS 80
Hoje, meu relato será diferente. Não será sobre a minha corrida, mas sim sobre a da minha esposa, Steliane Teixeira , vista por mim. Uma história de superação.
Me inscrevi para uma corrida de 12 horas em Niterói, que aconteceria numa pista de 1.000 metros, algo novo para mim., pois nunca fiz uma prova neste formato. Quando estava me inscrevendo, a minha esposa perguntou se ela conseguiria fazer essa prova. Conversamos, ela se animou e pediu para que eu a inscrevesse também.
Ela, que tinha como sua prova mais longa uma maratona, tinha um mês para treinar. Pelo regulamento da prova, ela deveria fazer, no mínimo, 43km nas 12 horas. Conversamos e chegamos a conclusão que, no mínimo, ela deveria fazer 60km. Ela se assustou, mas não desistiu e começou os treinos. Nesse mês, Steliane seu treino mais longo foi de 45km, em 6 horas. Terminou muito cansada.
Chegou o dia da prova, lá fomos. Dada a largada, lá foi ela. Por várias vezes passei pela minha esposa e via como ela estava focada. Após 5 horas de prova, ela não havia parado nenhuma vez para descansar. Uma hora corria, em outra, caminhava. E veio a surpresa. Ela estava em primeiro lugar no geral. Aí mesmo que ela não queria parar para descansar. Suas paradas eram rápidas para se hidratar e se alimentar. Parar para descansar nunca.
Com 7 horas de prova, a organização divulgou as parciais e ela não estava mais em primeiro lugar. A corredora que estava em primeiro é de renome, já ganhou várias ultras maratonas. Achamos estranho porque a cronometragem foi polêmica em todas as 12 horas de prova. Eu sabia que a minha esposa ainda estava em primeiro, pois ela passou pela outra corredora várias vezes. Parei minha prova e reclamei , mas de nada adiantou.
Encontrei com Steliane e disse para ela descansar. Ela foi ao banheiro e parou para fazer massagem. Depois disso, ela voltou e não parou mais. Com 10 horas de prova, a organização anunciou que minha esposa estava novamente em primeiro lugar. Com 11 horas, ela se mantinha na frente. De repente, a cronometragem tirou a vitória da Steliane e disse que a outra corredora corredora estava em primeiro, com duas voltas à frente, sendo que ela não passou a minha esposa dentro desta hora. Festa minha, dos amigos, lágrimas na torcida. Steliane completou as 12 horas dando uma aula de determinação. Festa para nossa campeã!
Enfim, para terminar esta história de garra, força e determinação, quero dizer que minha esposa me mostrou o quão ela é realmente forte, um exemplo de que basta querer e correr atrás.
Escrevendo este relato e lembrando tudo que rolou nas 12 horas da prova, não teve como não me emocionar, pois é motivo de muito orgulho para mim. Ela está na minha lista de exemplo de motivação nos meus momentos de dificuldade.
Parabéns, Steliane. Você foi simplesmente magnífica. Obrigado por tudo que você mostrou e demonstrou nessa prova. Fico mais feliz pois não sou o único ultramaratonista em casa. Agora eu tenho uma “vice campeã” geral numa ultra. Para mim, e muitos que estavam lá, você foi a campeã que correu 80km.
Sobre a minha prova. Me superei, quem estava lá viu o que aconteceu e fiz 94 km. Fiquei em terceiro na minha categoria.
PARABÉNS, STELIANE!!!
Flávio Loureiro
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”