Meu desânimo é tanto que me pergunto. Será que vale a pena?
Olho meus pés destruídos, penso nas pessoas que encontrei ao longo da corrida… e sem conseguir dormir resolvo contar o que foi a APTR Ultra de Videiras.
A Crônica da morte anunciada.
Por que? O percurso foi definido dias antes da corrida, e a mudança foi radical! Vou contar minha experiência no que seriam 119km, mas que se repetiu em outras distâncias também. Não pensem que eu estou de “mimimi”, ja que essa mudança foi a “simples ” inclusão de uma subida vertical de aprox. 5km com a altimetria semelhante a do Morro do Cuca! Ok… foi linda, mas todas essas mudanças de última hora acabaram gerando um acréscimo de 13km!! Os pés destruídos de Rosália Camargo Guarischi após os 120km da APTR VIdeiras
Isso mesmo… o posto completo com nossa drop bag, que estaria no 87km foi parar no 100km… ( isso sem mencionar um posto inteiro que desapareceu, algo que eu nunca tinha visto em uma APTR, e que nos levou a correr a noite mais de 40km sem nenhum abastecimento)
E o que a organização fez ao constatar que o posto do 87km estava no 100km… nada!!!!!
Eu segui adiante em direção ao Morro do Cuca, meu desafio final.
Já não estava correndo, mas com muita energia fazia um trekking rapido (o que é muito comum em ultras). Subi o Cuca, e foi lá no topo que comecei a me dar conta da situação em que eu estava.
A marcação que a organização colocou não refletia no escuro!!! Trechos de pedra longos eram difíceis de ser percorridos já que o foggy era intenso e a chuva aumentava deixando tudo muito escorregadio.
Me juntei com um amigo, o dr. Leonardo Rocha, e juntos passamos por esse desafio de chegar à base do Cuca. Meu coração apertado, pois no topo haviam pessoas totalmente inexperientes que iam fazer essa mesma descida a noite sem as marcações de percurso adequadas.
Eram 4:30 aproximadamente quando cheguei ao PC na base do Cuca, e foi lá que me disseram:
-Você não pode seguir adiante.
E foi quando me informaram que o restante da prova, uns 10km para a chegada… Não tinha marcação noturna, logo… eu tinha que parar a prova, mesmo estando a horas do meu ponto de corte e em segundo lugar na competição!
Quem me viu chegando de ambulância pode achar que passei mal. Não. Eu estava inteira e revoltada com a situação. Cheguei de ambulância porque era o único transporte disponível.
Bem… essa foi minha APTR Ultra de Videiras. Só não digo que foi um fracasso total, porque conheci pessoas incríveis ao longo dessas longas horas correndo.
Rosália Camargo Guarischi
APTR divulga nota sobre a Ultra Videiras
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”