A maioria das pessoas com quem conversei consideraram a edição do Ironman Florianópolis 2016 como uma das mais duras e difíceis desde que a prova entrou para o calendário. Realmente, as condições climáticas não estavam favoráveis para a maioria dos atletas amadores. A água do mar estava geladíssima e, como chovia, tínhamos pouca visibilidade para nos orientar entre as boias. Teve chuva em vários momentos, o que tornou o pedal mais perigoso. Enfrentamos frio e o vento contra que se manifestou em alguns trechos. A chuva, sempre ela, caiu um pouquinho durante a corrida, mas nada que pudesse atrapalhar essa etapa.
Sobre a minha prova, posso dizer que, mesmo com as adversidades, tudo saiu como o planejado. Minha estreia no Ironman foi quase perfeita. Meus tempos foram exatamente os que eu achava que seriam. Fui muito prudente e preferi seguir os conselhos do meu técnico, Anderson Souza, ir com calma e curtir a prova.
Eu estava bem treinado física e mentalmente. Sentia-me forte e sabia que todos os dias difíceis da preparação seriam recompensados nos 226km de prova. Pensando assim, fiz uma prova tranquila e tive um excelente estreia.
Por outro lado, completar um Ironman não depende exclusivamente dos treinos. Outros fatores estão envolvidos para a conclusão de uma prova de tal grau de complexidade como, por exemplo, problemas mecânicos, quedas, cãibras, hiportermia, desidratação. Problemas que podem surpreender um atleta preparado e tirá-lo da competição. Felizmente, não passei por nada disso em Florianópolis.
Durante a natação, a água gelada me travou um pouco na primeira perna de 2.2km e, como não estava conseguindo visualizar a boia de retorno, fui acompanhando quem estava na minha frente. Na segunda perna, consegui evoluir melhor e fechei em 1h25. Meu tempo limite era 1h30.
Não quis nadar com a roupa de ciclismo por baixo da roupa de borracha, como normalmente faço. Preferi me trocar e usar uma roupa seca porque estava frio. Por isso, minha primeira transição foi bem demorada, aproximadamente 17min. Tirei a roupa molhada, me enxuguei, vesti roupa seca, arrumei a alimentação na camisa, arrumei a hidratação na bike, vesti a polaina de compressão, coloquei meia para pedalar, passei vaselina, passei hipoglós, fui ao banheiro e, enfim, saí para pedalar. Sim, foi muito demorado, mas eu não estava com pressa.
Nos 180km de ciclismo, 0 único inconveniente foi o frio, que me fazia sentir muita fome e que também me obrigava a urinar a cada 20min. Não havia banheiros em número proporcional a minha vontade de fazer xixi. O jeito foi fazer xixi na calça algumas vezes. Nada que um pouco de água em cima da bermuda e da perna não resolvesse. Já estava chovendo mesmo. Rsrs
Na segunda transição, fui mais rápido, 15 minutos! Como disse meu amigo Leandro, tive meu dia de princesa nas transições.
Quando comecei a etapa da maratona, uma emoção tomou conta de mim. Estava me sentindo muito bem e sabia que iria completar a prova. Fiquei bem emocionado, acho que corri uns 5km com os olhos marejados, de felicidade. Administrei bem o ritmo sem forçar, queria fazer todos os 42km correndo, sem andar. Parar, só para ir ao banheiro e comer nos postos de hidratação.
O que seria o momento mais difícil da prova, para mim, foi o mais tranquilo e alegre. Curti cada momento que passei pela Avenida Búzios, local com a maior concentração de torcida e de amigos que acompanhavam o Ironman. Por fim, finalizei em 12h32 feliz, muito feliz . E, o melhor de tudo, sem dor e sem sofrimento.”
Hudson Pontes, do blog “Diário de um fotógrafo triatleta“
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”