Da Folha de S.Paulo. Por Rachel Botelho
Com a promessa de secar a silhueta em pouco tempo, o treino intervalado de alta intensidade (HIIT, na sigla em inglês), que intercala alguns segundos (isso mesmo, segundos) de esforço extenuante com repouso ou diminuição do ritmo, se tornou a nova vedete das academias.
Estudos recentes mostram que, diferentemente do que dizia a literatura médica anterior, fazer exercício intenso por curtíssimo tempo é tão eficaz para manter a forma e a saúde em dia quanto o treino tradicional.
Os diversos tipos de HIIT (na esteira, piscina ou bike) vêm sendo muito procurados, principalmente por quem quer emagrecer ou tem pouco tempo para se exercitar, como a nutricionista Rafaela Kherlakian, 24.
“Antes de a minha filha nascer, eu fazia musculação. Agora só faço essa aula, mas parece que fiz muito mais atividade física”, conta ela, que pratica V8lt (veja box ao lado) na Runner e é mãe de Maria Luísa, de quatro meses.
Segundo Guilherme Moscardi, responsável pela área de treinamento da Runner, a ideia é que em meia hora a pessoa “pague a fatura”.
Especialistas alertam, no entanto, que é preciso estar com a saúde em dia para aderir ao HIIT –já que o esforço exigido do coração e dos músculos é grande– e que não há comprovação de que a perda de peso seja maior do que no treino tradicional.
Para que a prática não cause desconforto nem exponha o participante a riscos cardiovasculares ou de lesões musculares, a intensidade e a periodicidade devem ser adequadas ao condicionamento físico de cada um.
A essência do treinamento HIIT é usar os dois tipos de metabolismo (aeróbio e anaeróbio) para provocar o corpo. “É uma atividade voltada para quem não tem limitações de saúde. Se você tem pouco tempo, é melhor do que nada, mas ela expõe a muito mais riscos do que o treino convencional”, diz o médico do esporte e ortopedista Ricardo Munir Nahas, do Hospital Nove de Julho.
Além disso, o ideal é complementar a atividade com exercícios de flexibilidade e fortalecimento muscular, segundo o fisiologista Turibio Leite de Barros, da Unifesp. “O HIIT está longe de ser um exercício completo”, afirma.
Uma pesquisa realizada no Canadá e publicada em abril no periódico “PlosOne” com homens na faixa dos 20 anos mostrou que apenas um minuto fracionado de exercício extenuante, alternado com nove em ritmo lento, é capaz de incrementar os índices cardiometabólicos tanto quanto 45 minutos de prática moderada tradicional.
Apesar da boa notícia, o próprio Martin Gibala, um dos autores do estudo, reconhece que a melhor estratégia de fitness é aquela que incorpora uma variedade de exercícios diferentes e que é prazerosa, para facilitar a adesão à prática.
“Feitas as ponderações necessárias, pessoas que têm muito pouco tempo disponível podem usar o HIIT de modo eficaz”, diz.
Cada academia oferece um programa diferente de HIIT, com duração variável, que pode ser realizado na esteira, na bike ou na área de musculação, com aparelhos ou com o peso do próprio corpo.
Todos eles promovem perda de gordura e ganho de massa muscular, segundo as academias.
“Quanto mais alta a intensidade, maior a quantidade de gordura consumida. Se quero tirar a capinha de gordura, dar aquela reduzida na silhueta, ele é mais eficiente do que o treino tradicional”, afirma Moscardi.
Para os alunos, a chance de entrar em forma rapidamente não é o único atrativo dos treinamentos de alta intensidade. “É um treino curto e intenso, não é maçante. Cansa muito, e eu já perdi uns dez quilos em um ano”,
diz a enfermeira Elena Fagundes, 55, que atualmente faz aulas de HIIT na Competition.
“Eu faço aquela aula pesada e saio mais alegre e relaxada”, completa.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”