Lenda das pistas, britânico Mo Farah estreia seu 'Mobot' em Chicago, ao vencer sua primeira maratona

O britânico Mo Farah, de 35 anos, lenda viva do atletismo por seus feitos nas pistas, como o bicampeonato olímpico e o tricampeonato mundial nos 5.000m e 10.000m, entrou para a lista dos campeões de maratonas. Com o tempo de 2h05m11s, sob um tempo nublado e chuvoso, ele venceu a Maratona de Chicago, uma das principais do mundo e integrante da World Marathon Majors, que teve o recorde de 44.571 mil concluintes, conquistando seu primeiro título em sua terceira disputa na distância. Ao cruzar a linha de chegada no Millennium Park, Farah socou o ar com o punho direito, depois com o esquerdo, e, para finalizar e extravasar  toda a tensão, fez o Mobot, gesto que o notabilizou após suas vitórias e subidas ao pódio, tocando a cabeça com as duas mãos, antes de abraçar a mulher Tânia. Em segundo lugar ficou o etíope Mosinet Geremew, com 2h05m24s, e, em terceiro, o japonês Suguru Osako, com 2h05m50s. Na prova feminina, a vitória foi da queniana Brigid Kosgei, com 2h18m35s, seguida pelas etíopes Roza Dereje, com 2h21m18s, e Shure Demise, com 2h22m15s.
“Eu estava confortável no Km 38. A  partir daquele momento, fiquei testando meus adversários”, disse o campeão, nascido em Mogadíscio, capital da Somália, e naturalizado britânico, que recebeu US$ 100 mil de prêmio, e se candidata para ser um dos favoritos ao título nas Olimpíadas de Tóquio, em 2020. “Eu não tinha certeza de quem era o cara que foi comigo, então eu precisava ter força suficiente no final. Mas eu, definitivamente, estava em ouro nível”.
No café da manhã, às 5h (horário local), após comer mingau e frutas, Farah discutiu qual seria sua tática de corrida com seu treinador Gary Lough. Eles concordaram que o britânico seria conservador para poupar energia até imprimir seu ritmo. Na primeira metade da corrida, o campeão ficou no bloco atrás dos coelhos (corredores contratados para ditarem o ritmo da prova), protegendo-se do vento. Farah também mostrou que estava aprendendo a correr uma maratona. Na de Londres, em abril, ele cruzou os 21km em 1h01m e pagou o preço, terminando em terceiro lugar, com 2h06m21s, atrás do queniano Eliud Kipchoge, com 2h04m17s, e do etíope Shura Kitata, com 2h04m49s. Em Chicago,  Farah chegou com sobras na meia maratona com 1h03m06s. No Km 33, ele tropeçou em um bueiro. “Eu coloquei meu pé nele quando peguei minha garrafa de bebidas”, disse ele. “Foi muito doloroso por cerca de dois quilômetros.”

Largada da Maratona de Chicago 2018, que teve recorde de 44.571 concluintes

No Km 38, quatro atletas ainda estavam na disputa: Farah, o etíope Mosinet Geremew e os quenianos Geoffrey Kirui e Kenneth Kipkemoi. Estava se transformando em um jogo de pôquer de alta velocidade. Farah sabia que estava com todos os ases. O primeiro a recuar foi Kirui, seguido Kipkemoi. Geremew, que tem 2h04m como recorde pessoal e um renomado sprint, mas agora  ele estava no território de Farah. Os dois correram ombro a ombro, em ritmo forte, até que Farah, nos 400m finais, deu um sprint para se consagrar. Ele agora possui recordes europeus nos 1.500m, 10.000m e na maratona.

Os campeões da Maratona de Chicago 2018: a queniana Brigid Kosgei e o britânico Mo Farah

Na avaliação de Farah, ele poderia ter “ido muito mais rápido”, entre 2h04m ou 2h03m, distante do recorde de Eliud Kipchoge, com 2h01m37s, na Maratona de Berlim, mês passado. O britânico reconheceu que o queniano é um “animal diferente”.
“Eliud é o melhor atleta na maratona”, disse Farah. “Ele corre mais e melhores maratonas do que eu. Mas eu não tenho medo de continuar aparecendo na mesma pista que ele e continuar testando-o.”
Não há como duvidar da afirmação de Farah. Ele é o corredor de pista mais vitorioso da história do Reino Unido, com 10 ouros e duas pratas Olimpíadas e Mundiais. Com o resultado em Chicago, o britânico pode esperar outras conquistas pela frente.

COMPARTILHE
Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."