O esporte, de maneira geral, está repleto de grandes exemplos de superação e de como possibilita a inclusão social de pessoas com deficiência. No triathlon não é diferente. No próximo domingo (3), o argentino Martin Kremen, de 48 ano, possuidor de uma enfermidade genética chamada Síndrome de Usher, que provoca problemas visuais e auditivos, além de afetar o equilíbrio, vai participar do Ironman 70.3 Rio de Janeiro vai enfrentar, pela segunda vez (a estreia foi em 2018), os 1,9km de natação, 90km de ciclismo e 21,2km de corrida da prova.
Único triatleta cego de seu país a completar um Ironman, Kremen se impôs um desafio para este ano. Ele quer completar uma prova de Ironman em cada continente. A primeira prova foi o Ironman Brasil, em Florianópolis, em 2015, em Porto Elizabeth, na África do Sul, em 2017, em Taupo, na Nova Zelândia, em 2018, e Barcelona, na Espanha, em 2019. Em novembro, para fechar a lista, o argentino vai participar do Ironman de Tel Aviv, em Israel.
Martin Kremen venceu depressão com o esporte
“Muita gente acha que as pessoas com algum tipo de deficiência não podem ter uma vida feliz e de prazer. Acredito ser uma prova de que isso não é bem assim. Fiquei cego há 15 anos e quando assumi a deficiência, depois de uma grande depressão, minha vida mudou. Comecei a correr, nadar, remar, andar de bicicleta de dois assentos e outras coisas. O esporte foi minha melhor terapia e comecei a me propor desafios de 10km, 21km e 42km. De corredor passei a maratonista, corredor de aventura, atleta da seleção de remo adaptado e, finalmente, o triathlon, este em 2012”, conta Martin.
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A relação com o Brasil é antiga. Foi em Florianópolis, em 2015, sua primeira prova de Ironman, sendo o primeiro atleta cego de seu país e o primeiro surdo e cego do mundo a completar a distância. “Foi uma experiência incrível. Gostei tanto que depois estive em duas edições da Maratona do Rio para disputar os 21km, em 2016 e 2017, e, no ano seguinte, participei do Ironman 70.3 Rio de Janeiro. Agora estou de volta e servirá como parte da preparação para a prova de Israel, em novembro”, explica o engenheiro de sistemas e conferencista motivacional.
Argentino terá a companhia do guia El Ninja
Durante a prova, ele estará acompanhado do guia Alberto, conhecido com El Ninja. “Somente na primeira parte, nos 1,9km de natação, tenho de entrar na água sem os aparelhos auditivos. Totalmente cego e surdo, neste momento a única forma de me relacionar com o guia é com tato. Ele me dá toques no ombro para indicar o que fazer”, encerra.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”