A Nike está lançando o Nike Flyprint, primeiro cabedal feito de tecido por impressão 3D em tênis de alto desempenho. A estreia será neste domingo (22/4), na Maratona de Londres, quando o queniano Eliud Kipchoge usará o modelo Nike Zoom Vaporfly Elite Flyprint. Nesse mesmo fim de semana, uma tiragem limitada do tênis será vendida
apenas em Londres, pelo Nike App.
A estrutura que forma a base do Flyprint é produzida num processo chamado “solid deposit modeling” (moldagem por sedimentação sólida, ou SDM). Nele, um filamento de poliuretano termoplástico (TPU), em formato de espiral, é desenrolado, derretido e sobreposto em camadas.
O modelo Nike Zoom Vaporfly Elite Flyprint, primeiro tênis de corrida da Nike desenvolvido com o cabedal feito por impressão 3D, que será lançado na Maratona de Londres
O método Flyprint permite que os designers transformem dados fornecidos por atletas em novas geometrias têxteis. Por isso, o Flyprint, segundo a marca esportiva, representa um salto no trabalho já realizado pela Nike com o desenvolvimento digital de tecidos, e estabelece um novo marco numa ampla trajetória de inovações exclusivas que alteram máquinas. Esse histórico inclui revoluções como Nike Hyperfuse, Flywire e Flyknit.
O processo de desenvolvimento da peça Flyprint tem início com a coleta de dados fornecidos pelos atletas. Os dados são analisados por computadores com ferramentas de design computacional e mostram a composição ideal do material. Em seguida, as informações são usadas para produzir o tecido final. Essa operação demonstra a versatilidade do Flyprint, já que o resultado pode ser único para cada atleta ou cada finalidade de uso. Ela também reduz drasticamente o tempo do processo de design como um todo. A impressão de alto desempenho permite à Nike avançar mais rápido e levar a precisão a um grau inédito: a fase de prototipagem é 16 vezes mais rápida do que em qualquer outro método de produção.
Solado do modelo Nike Zoom Vaporfly Elite Flyprint
Um benefício interessante do tecido 3D em relação aos materiais tradicionais 2D é o dinamismo criado por uma nova interconexão nos fios, que vai além da trama propriamente dita. A natureza fundida do material representa uma imensa vantagem do Flyprint. Um tecido, por exemplo, com trama costurada ou tricotada traz uma resistência imposta pelo entrelaçamento dos fios; já no tecido impresso, as intersecções fundidas asseguram uma contenção mais precisa. O Flyprint também é mais leve e ventilado do que outros materiais usados anteriormente pela Nike.
Quando o assunto é a velocidade do design, o novo método apresenta duas vantagens em relação ao processo tradicional. Em primeiro lugar, é possível ajustar localmente linhas específicas do material, sem prejudicar a estrutura como um todo. Além disso, a agilidade entre um protótipo e outro significa que a fase de testes e revisões é consideravelmente mais rápida. Com isso, o Flyprint garante design de altíssima fidelidade, grandes benefícios para os atletas e o menor tempo de criação.
O material também funciona perfeitamente junto com outros tecidos – sobretudo com fios Flyknit –, criando o equilíbrio ideal entre caimento e estrutura. Na verdade, os fios Flyknit podem ser estruturados para se unir ao tecido Flyprint por ação térmica, eliminando a necessidade de usar cola ou pespontos.
O cabedal Nike Flyprint foi projetada para ajudar os fundistas mais rápidos do mundo a correr ainda mais rápido. Não à toa, o primeiro modelo a contar com esse material é o Nike Zoom Vaporfly Elite Flyprint. O VaporFly Elite foi criado para o queniano Eluid Kipchoge, tendo como base informações fornecidas pelo próprio atleta após sua vitória na Maratona de Berlim do ano passado, e partindo de uma fase-relâmpago de protótipos. A nova parte superior feita de Flyprint aprimora ainda mais o tênis e reduz o peso do calçado em 11 gramas, quando comparado ao original usado por Kipchoge.
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Na Maratona de Berlim de 2017, Kipchoge, que conseguiu a marca de 2h00m25s no projeto Nike Breaking2, também no ao passado, correu debaixo de chuva pesada e com 99% de umidade relativa do ar. O desempenho não foi suficiente para o queniano bater o recorde mundial. Depois da corrida, os designers da Nike conversaram com o atleta para saber qual o impacto da chuva e da umidade durante a prova e descobriram que o Nike Zoom Vaporfly Elite (modelo usado no projeto Nike Breaking2) tinha absorvido água. Como a água não evaporou ao longo da maratona, o tênis ficou mais
pesado.
Estava claro que isso não poderia acontecer novamente. Como o Nike Vaporfly Elite e o Nike Vaporfly são 4% mais leves, os designers decidiram manter a estrutura do tênis e centrar esforços na criação de um novo cabedal, o Nike Flyprint. Os designers entraram numa fase-relâmpago de prototipagem em 2018, durante a qual milhares de possibilidades foram testadas antes de apertar o botão “imprimir”, com diversas variações para cada protótipo. Finalmente, a equipe escolheu a versão “D” para o teste nas pistas.
Em questão de horas os designers já fizeram algumas alterações. Foram necessários apenas nove dias para que a próxima rodada de amostras dos modelos “E”. Pouco depois, Kipchoge testou e aprovou a versão “F”. E então finalmente ele disse que estava pronto para usar o novo modelo na Maratona de Londres.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”