Por Elizabeth Narins, da Cosmopolitan.
Oi. Estou aqui com todos os lenços para secar as lágrimas da Maratona de Nova York. Se você estava correndo ou assistindo, você não era o único a se sentir emotivo e confuso sobre por que você sentiu vontade de chorar.
“Chorar é uma resposta emocional saudável ao sentimento de tristeza, opressão ou até mesmo de felicidade”, diz a ultra-maratonista e tricampeã de Ironman Angie Fifer, psicóloga esportiva e membro do conselho executivo da Associação de Psicologia Aplicada ao Esporte dos Estados Unidos.
Ela chorou depois de suas próprias corridas – “Fiquei tão feliz de poder parar de andar depois de tantas horas”, – mas também do lado de fora enquanto assistia a outros correndo.
“O dia da corrida é a culminação de todo o treinamento”
O primeiro cenário faz mais sentido: “Se preparar e terminar uma maratona é um processo extenso que afeta muitas áreas diferentes da sua vida. Desde sacrificar o tempo familiar e pessoal, acordar e ir para a cama cedo, não estar em sociais divertidos e até mesmo mudanças na nutrição e hidratação”, diz ela. “O dia da corrida em si é a culminação de todas aquelas horas de treinamento e sacrifício que resultam em uma intensa liberação emocional.”
Emily Abbate, de 30 anos, que já correu sete maratonas, fez sua prova mais rápida no último domingo e caiu no choro após terminar a Maratona de Nova York:
“Atravessar essa linha de chegada é muito mais do que apenas um único dia de muito esforço”, diz ela, que em 2007 se esforçava para correr dois quilômetros sem querer vomitar. “É um testemunho de como a dedicação e o trabalho árduo podem ajudar a alcançar algo grandioso.”
Pia Tempongko, de 36 anos, que fez sua terceira maratona no último domingo, sucumbiu ao choro no meio da corrida por uma razão muito diferente: decepção.
Mancando desde o Km 11, ela alternou corrida e caminhada depois de problemas no joelho desde que correu a Maratona de Berlim, em setembro. “Eu estava com muita dor e sobrecarregada de emoções”, conta ela, que cruzou a linha de chegada em 4h08m. “O público que estava pelo percurso, principalmente a partir do Km 33, me incentivou bastante. Ele acreditava em mim quando eu estava duvidando de mim mesma”.
Muitas emoções, poucas explicações
Antes de tirar conclusões precipitadas, as pessoas que completam maratonas de olhos secos não são sem alma: “Corredores que não choram não são menos sentimentais”, diz Fifer. “Eles simplesmente não tiveram uma resposta emocional naquele momento.”
Alguns treinadores incentivam seus corredores a deixarem a razão de lado enquanto competem. Jes Woods, treinador do Nike + Run Club e ultramaratonista de Nova York, diz a seus alunos para “se encherem com toda energia possível e emoção e usá-las como combustível até a linha de chegada”.
Há muitas razões pelas quais você pode se emocionar como se pudesse sentir a dor de um corredor, mesmo sem saber: “Observar os outros realizando suas metas ou lutar por uma experiência desafiadora também pode desencadear uma resposta emocional nas pessoas”, diz Fifer. “Especialmente quando você se preocupa em bater as mãos na calçada (hi-five)”.
Enquanto isso, chorar por estranhos pode se originar de sentimentos mais profundos. “Assistir a uma corrida também pode lembrá-lo de que talvez você não tenha cumprido ou seguido uma meta que desejava conseguir”, diz Fifer. “A corrida é um esporte tão bonito, que apenas observar o corpo em movimento já pode ser uma experiência emocional.”
Humanos!
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”