Vai ficar para uma próxima maratona, provavelmente em uma outra edição em Berlim, a tentativa de correr os 42km em menos de 2h02m. Neste domingo (24/9), na 44ª Maratona de Berlim, o queniano Eliud Kipchoge, de 32 anos, fez muita força para ser o primeiro corredor a conseguir essa marca, mas ele ficou a 1m32s do que seria um tempo emblemático. Com 2h03m32s, ele conquistou o bicampeonato na capital alemã, repetindo o feito de 2015, quando marcou 2h04m00s. As condições da prova deste ano não eram ideais para uma quebra de recorde de tamanha grandeza, pois choveu e a umidade do ar estava elevada, mas, mesmo assim, Kipchoge mostrou ser o melhor maratonista da atualidade. Ninguém correu tão rápido em tal situação, que pode ser considerada um “recorde mundial na chuva”. O recorde mundial é do também queniano Dennis Kimetto, obtido em Berlim, em 2014, com 2h02m57s. A maratona mais rápida da World Marathon Majors teve o recorde de 43.852 corredores, de 137 países, em um dia de eleições na Alemanha.
Muito se falou da possibilidade da quebra da marca das 2h02m nos últimos meses, pois três maratonistas incríveis estavam no pelotão de elite. As apostas sobre quem seria o herói a romper a barreira estavam entre Kipchoge, o etíope Kenenisa Bekele e o também queniano Wilson Kipsang. Mas foi um novato que surpreendeu e deu muito trabalho ao bicampeão. Guye Adola, da Etiópia, fazia sua estreia nos 42km e liderava a corrida até os 40km, sempre com Kipchoge na cola. Mas nos quilômetros finais, o campeão olímpico fez valer sua categoria e deixou Adola para trás. O novato terminou em 2h03m46s, ficando com o título de corredor estreante mais rápido em uma prova da tamanha envergadura. O terceiro lugar foi de Mosinet Geremew, com 2h06m12s.
“Essa foi definitivamente a maratona mais difícil que já corri”, afirmou Kipchoge. “As condições eram longe de ser fáceis. Depois que Guye Adola assumiu a liderança, eu ainda estava confiante da vitória. Eu acho que ainda posso quebrar o recorde mundial “, disse o Kipchoge, cujo tempo de 2h03m32s foi seu segundo melhor, perdendo para o de 2h03m05s, na Maratona de Londres de 2016. No entanto, em maio deste ano, ele fechou os 42km do Breaking2, evento de sua patrocinadora, em 2h00m25s, no circuito de Monza, na Itália, mas fora das regras da IAAF.
No feminino, a queniana Gladys Cherono também foi bicampeã, repetindo como seu compatriota a conquista de 2015. Ela terminou em 2h20m23s, seguida por pela etíope Ruti Aga, com 2h20m41s, e pela também queniana Valery Aiyabei, com 2h20m53s.
Conforme previsto, a corrida masculina começou em um ritmo extremamente elevado, com os 10km sendo feito em 29m04s, apontando para um recorde mundial de 2h02m40s. Mas a alta umidade foi prejudicando o pelotão de alto rendimento, formado pelo trio Kipchoge, Bekele e Wilson Kipsang e por nomes menos conhecidos, como Vincent Kipruto, do Quênia, e Adola.
Na meia maratona, o grupo passou com 1h1m29s, que, pulverizaria o recorde de Kimetto. Pouco depois, Bekele, campeão em Berlim em 2016 e recordista mundial dos 5.000m e 10.000m, diminuiu o ritmo e, alguns quilômetros depois, assim como Kipsang, abandonou a prova.
Com dois fortes adversários fora, Kipchoge deve ter imaginado que teria uma vida fácil, pois venceu sete de suas oito maratonas nos últimos quatro anos. Mas Adola, um forte corredor de 21km, com uma medalha de bronze no Mundial da distância, estava disposto a fazer história. Ele passou a liderar a Maratona de Berlim no Km 35 e correu vários quilômetros a cerca de 25 metros à frente de Kipchoge.
Mas como Adola não conseguiu abrir uma vantagem confortável para se livrar do queniano, Kipchoge, no Km 40, apertou o ritmo e superou o etíope. Apesar de ter perdido a liderança e ter ficado em segundo, Adola, com suas 2h03m46s se tornou o segundo maratonista mais rápido de seus país, atrás de Bekele e à frente da lenda Haile Gebrselassie, bicampeão olímpico e tetracampeão mundial dos 10.000 m e estabeleceu 27 recordes mundiais entre distâncias que vão dos 3.000 m à maratona.
Adola provou ser uma revelação em sua estreia na maratona:
“Gostei de tudo, incluindo a segunda metade da corrida, principalmente dos últimos dois quilômetros”.
No feminino, o pelotão com Gladys Cherono, Ruti Aga, Valary Aiyabei e Amane Beriso fecharam os 21km em 1h09m40s. O ritmo colocou o recorde da prova, da japonesa Mizuki Noguchi, de 2h19m12s, que já dura 12 anos, sob ameaça, que correu. Pouco antes dos 35km, a favorita Gladys se distanciou de Aiyabei e Aga. Embora a queniana não conseguisse manter o mesmo ritmo no final, ele ficou muito feliz com o resultado:
“Depois de me machucar no ano passado e ter duas fraturas sucessivas por estresse, esse é um grande sucesso para mim. Pensei que talvez não conseguisse recuperar este tipo de nível, mas agora tenho e acredito que também posso melhorar o meu melhor tempo “, disse Cherono, de 34 anos.
Resultados
Masculino: 1. Eliud Kipchoge (KEN), 2:03:32; 2. Guye Adola (ETH), 2:03:46; 3. Mosinet Geremew (ETH), 2:06:12; 4. Felix Kandie (KEN), 2:06:13; 5. Vincent Kipruto (KEN), 2:06:14; 6. Yuta Shitara (JPN), 2:09:03; 7. Hiroaki Sano (JPN), 2:11:24; e 8. Ryan Vail (EUA), 2:12:40.
Feminino: 1. Gladys Cherono (KEN), 2:20:23; 2. Ruti Aga (ETH), 2:20:41; 3. Valary Aiyabei (KEN), 2:20:53; 4. Helen Tola (ETH), 2:22:51; 5. Anna Hahner (GER), 2:28:32; 6. Catherine Bertone (ITA), 2:28:34; 7. Sonia Samuels (GBR), 2:29:34; e 8. Azucena Diaz (ESP), 2:30:31.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”