Vanessa de Figueiredo Protásio, uma máquina de correr aos 63 anos

Vanessa de Figueiredo Protássio. Imagem: Rede Globo

Vanessa de Figueiredo Protásio, segundo a teoria do psiólogo sueco Anders Ericsson*, já cumpriu mais que as 10 mil horas de treino para alcançar a excelência no esporte que pratica: correr maratonas. Obstinada, ela, que completa hoje 63 anos, já deu algumas voltas na Terra para conquistar os inúmeros pódios que vem ganhando nos últimos 38 anos. Aos 27 anos, ela se descobriu uma atleta vocacional, quando cumpriu 8km em seu primeiro treino e teve sua percepção corporal do mundo.
Para essa maratonista, como define Olavo Feijó, em seu livro “Psicologia para o esporte”, as dezenas de quilômetros significam o ambiente que suas pernas devem percorrer, apoiadas por todos os outros mecanismos de seu corpo.
E a essa vocação de Vanessa, soma-se, entre outros, o gosto por desafios. Somente treinar, sem se colocar em teste, não interessa. A presença em provas, para quem sente a necessidade de evoluir sempre, de quebrar recordes, de superar a si mesma é fundamental. E com base nessa premissa que Vanessa sempre traça desafio.
E para tais desafio, não faz mais do mesmo. Ela precisa ousar e sempre de forma bem estruturada. Em parceria com o fisiologista do exercício e personal trainer Anderson Brandão e com o nutricionista Rafael Brasília. Ambos, de acordo com a mensuração e avaliação de parâmetros fisiológicos, criam planos de ação conforme o objetivo proposto por Vanessa.
Vanessa na Golden Run 2016
Anderson Brandão, que já trabalhou com atletas de ponta, realiza hoje trabalho específico para performance com atletas amadores com grande potencial e lança mão de ferramentas como o exame de ergoespirometria computadorizada ou calorimetria indireta, método que permite a monitoração e o registro, em tempo real, da ventilação pulmonar e das trocas respiratórias, figurando-se como metodologia de suma importância na análise mais precisa e adequada das respostas cardiorrespiratórias e metabólicas durante o exercício.
“Desta forma, sabe-se quando e como treinar e quais as zonas tem que se estabelecer. Serve também para saber quanto ela precisa comer para produzir a energia gasta no treinamento”, resume Anderson, da Academia Posto 11, no Leblon.
Além disso, Vanessa, que tem vários títulos em sua carreira de corredora amadora, precisou inserir novos hábitos na rotina. Passou a fazer musculação três vezes por semana, alongamento e exercícios de flexibilidade e teve novidades também no treinamento.
Segundo Anderson, “um amador no nível da Vanessa corre em média 80km por semana para fazer uma maratona. Desta rodagem, 20 ou 30% são feitos com qualidade. Para aumentar esse percentual, levando em consideração variáveis que considero de muita importância, Vanessa passou a treinar 50km por semana, equalizando melhor o tempo dedicado a nutrição para modulação hormonal, sono para promover as adaptações ao treinamento e a alternância de trabalhos musculares para uma recuperação ativa da musculatura. Fato é: nós treinamos mais, quando não estamos correndo e por isso corremos mais quando estamos de fato treinando. Sem falar no trabalho mental que fazemos… Muito treinamento mental…pois na competição ela vai entrar na zona dela de desconforto”.
A nutrição também tem papel fundamental na preparação de Vanessa, que em 2016 participou de três meias maratonas (Lisboa, Nike Victory e Golden Run, em que ficou em primeiro na sua faixa etária). Segundo Brasília, os objetivos do trabalho nutricional com Vanessa são a recuperação muscular, ganho sutil de massa magra e perda de gordura. E há  uma preocupação por causa da idade (os hormônios declinam com o passar dos anos, prejudicando a recuperação e ganho de massa magra) e por ser mulher (o ganho de massa magra é inferior ao masculino mesmo em pessoas mais jovens).
“Tendo em vista estes dois pontos. é necessário elaborar uma planilha de treinos inteligente,  onde os treinos mais intensos de corrida não atrapalhem os treinos de musculação. Podemos ter a melhor alimentação possível e a melhor suplementação, mas uma boa planilha de treinos é necessária”, afirma Brasília. “Na fase competitiva, usamos suplementos normais como BCAA’s, géis, isotônicos, whey protein, glutamina.  No período de base, tentamos priorizar o ganho de massa e temos uma dieta diferente, mais calórica associada ao uso de  creatina.”
 
Vanessa é um exemplo. Além de uma saúde invejável, esbanjando força, energia e vitalidade, ela é uma atleta nata e o fato dela ser coach facilita muito o trabalho, pois é muitíssimo disciplinada, focada e tem muito autocontrole. E seu trabalho de base para 2017, quando correrá novamente a Meia de Lisboa e a Maratona do Rio.
* O sueco Anders Ericsson é psicólogo e professor eminente de psicologia da Universidade Estadual da Flórida, amplamente reconhecido como um dos principais pesquisadores teóricos e experimentais do mundo. Atualmente, ele estuda a estrutura cognitiva de desempenho de alta performance em diversas áreas.

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."