Brasileira Fernanda Maciel quer ser Top 3 na Ultra Trail du Mont Blanc, umas das ultramaratonas mais difíceis do mundo

Fernanda Maciel treina em Chamonix, na França, para a UTMB 2018. Foto de Mathis Dumas / Red Bull Content Pool
Fernanda Maciel treina em Chamonix, na França, para a UTMB 2018. Foto de Mathis Dumas / Red Bull Content Pool

“Eu não posso olhar para cima. É assustador”. É assim que a ultramaratonista Fernanda Maciel define as montanhas que irá encarar a partir desta sexta-feira (31/8), na Ultra Trail du Mont Blanc (UTMB), considerada a Copa do Mundo do trail run. Serão 171km de distância e 20.000m de desnível acumulados. A largada é em Chamonix, na França, cruzando maciços e montanhas francesas até Courmayer, na Itália. De lá, encaram um relevo ingrime até Champex Lac, na Suíça, e rumam pelos alpes franceses para terminar a prova em Chamonix.

Fernanda Maciel é a única atleta sul-americana com quatro pódios na UTMB. Foto de Mathis Dumas / Red Bull Content Pool

Fernanda é a única brasileira e sul-americana a estar no pódio da UTMB por quatro vezes em oito participações (campeã da TDS, de 121km, em 2009, quarta na UTMB, em 2010, quinta na UTMB, em 2012, terceira colocada na UTMB, em 2014).  A meta de 2018? Estar entre as três melhores e conseguir o máximo de pontos visando ao circuito mundial.
Aos 38 anos, essa mineira é uma referência no mundo em corridas de longas distâncias. Em 2014, ela foi vice-campeã mundial de Ultra Trail, feito que ela considerado o maior de sua carreira. Em 2016, com 22 horas e 52 minutos, ela se tornou a primeira mulher do mundo a subir e descer o Monte Aconcágua, com 6.952 metros de altitude, em menos de 24 horas. Em 2017, a atleta conquistou o terceiro lugar no Marathon des Sables, uma ultramaratona com 251km, no deserto do Saara. Neste mesmo ano, Fernanda bateu dois recordes mundiais ao subir e descer correndo o Monte Kilimanjaro, a montanha mais alta da África, com 5.895m. Mesmo com todo esse currículo, a atleta ressalta o fato de a UTMB ser uma das piores provas que irá encarar.

“Essa é uma corrida muito técnica, muito difícil, e que cada segundo conta. Não existe parar”, afirma Fernanda, que está há dois meses em Chamonix, treinando mais de oito horas por dia. Foto de Mathis Dumas / Red Bull Content Pool

“Essa é uma corrida muito técnica, muito difícil, em que cada segundo conta. Não existe parar. Eu conto os mililitros de água que bebo”, afirma Fernanda, que mora nas montanhas dos Pirineus espanhóis. “Para se ter uma ideia, eu paro uma vez em toda a corrida para ir ao banheiro. Como o nível dos competidores é muito alto, um minuto influencia muito. Quinze minutos podem significar quatro posições que posso perder no ranking. Mesmo com toda a estrutura de prova para comer e dormir, nós da elite não podemos nos dar ao luxo de descansar um pouco. A pressão é enorme e precisamos ter 100% de foco em nosso objetivo”.

Os equipamentos de Ferananda Maciel para a UTMB

Para a corredora, como a UTMB oferece uma alta pontuação, ir bem nesta prova é essencial para se manter entre as primeiras colocações do ranking mundial. “Eu tenho uma predisposição física boa para provas com distâncias acima dos 100km e que duram mais de 24 horas”, diz ela, que começou a competir aos 8 anos, como ginasta olímpica, e, aos 23 anos, passou a participar de expedições internacionais de corridas de aventura. “Já tenho experiência nessas provas longas e isso me ajuda a ter uma vantagem sobre outras corredoras. Como essa corrida tem uma pontuação alta, conseguir uma boa colocação nela me dá grandes chances de terminar o ano no top 3 do ranking mundial”.

Para conquistar seu objetivo, além de muito treino e preparação – faz dois meses que ela já está na região, treinando mais de oito horas por dia – Fernanda espera contar com a ajuda do clima. Em 2017, o forte frio e a nevasca à noite prejudicaram sua visão, ocasionando um fenômeno conhecido como snowblind. Isso fez com que a atleta tivesse que sair da prova para que seu problema não se agravasse.

“Ir bem no UTMB é essencial para se manter entre as primeiras colocações do ranking mundial”, diz Fernanda Maciel, que treina nas montanhas de Chamonix para a largada desta sexta-feira. Foto de Mathis Dumas / Red Bull Content Pool

“Eu venho acompanhando a previsão do tempo e, para esse ano, acho que será melhor. A prova começará às 18h, desta sexta-feira. O pior trecho é à noite. Mas como estamos começando, ainda temos muito gás. Neste ano, parece que o tempo não estará tão frio como no ano passado. No sábado, devem acontecer alguns chuviscos e a temperatura ficará em torno de 8 graus. O topo das montanhas é o que mais preocupa, porque por lá pode estar nevando em alguns trechos”, explica ela, que trabalhou como advogada ambiental e educadora e instrutora de meio ambiente pela ONG Internacional Outward Bound e hoje é nutricionista e representante no Brasil da Compressport, empresa de produtos esportivos.
Entre as principais atletas que brigam pelo pódio e uma boa colocação no ranking mundial estão a americana Magda Boulet e a sueca Mimmi Kotka. Para conseguir superá-las, Fernanda espera completar a prova entre 26 e 27 horas. Como parâmetro, um corredor “amador” costuma completar a prova em mais de 40 horas.

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."