Como foi a estreia de Nizan Guanaes nos 21km, ocorrida na Meia Maratona de Amsterdã de 2015

Ontem, publiquei o texto do publicitário Nizan Guanaes sobre os benefícios que a corrida proporcionou a sua vida pessoal e profissional, em sua coluna de 13 de outubro de 2015, na “Folha de S.Paulo”, na véspera de correr a Meia Maratona de Amsterdã. Agora, compartilho o que ele escreveu no dia 27 de outubro de 2015, no seu espaço no jornal,  sobre como foi a prova. Vale (re)ler.

A repercussão do que escrevo nesta coluna é prova irrefutável da grande força dos jornais. Há duas semanas, falei sobre minha primeira meia maratona. Pedi apoio e orações. A resposta foi incrível, dentro e fora da pista.

Recebi mensagens carinhosas e convites para palestras, entrevistas e outros eventos desse universo paralelo chamado corrida. Cada um me deu força para completar os 21 quilômetros da meia-maratona de Amsterdã.

Não é que foi fácil. Os três últimos quilômetros são para sentar na calçada e chorar. Mas a adversidade fortalece. Foi quando comecei a dizer a mim mesmo: eu vou fazer isso, eu vou completar essa prova. Estava competindo comigo mesmo. Não queria suplantar ninguém, a não ser a mim mesmo. E corria tanto com as pernas quanto com a mente.

As nossas aflições profissionais são muito parecidas com as da meia maratona. Uma prova longa, de superação, fôlego e foco. É tudo o que precisamos neste momento.

A coisa que mais adoro na corrida é que ela não resolve os problemas, mas os deixa do tamanho que eles têm. Quando estamos mergulhados no estresse, todo problema é imenso. Depois, correndo, o problema vai ganhando o tamanho que ele verdadeiramente tem.

A corrida é muito boa para inspirar, acalmar, dar perspectiva. Ajuda no sono, no humor. Ela distrai. E traz a importante disciplina de treinar.

O nome do momento no Brasil é fôlego, e o gatilho do fôlego é a endorfina. Estamos passando por situações parecidas com os três quilômetros finais da meia maratona. E agora eu vou ter essa lembrança de dizer: vai que você aguenta.

Medalha da Meia Maratona de Amsterdã 2015

Vou lembrar sempre também que fôlego se ganha com foco. Cada vez que tirava a cabeça da corrida, minha velocidade caía. Quando percebi isso e foquei totalmente a prova, o desempenho melhorou. Cruzei a linha de chegada com tempo muito melhor do que prevíamos, em duas horas e 54 minutos, boa marca para iniciante. Fui pegar minha medalha com muito orgulho, que não diminuiu com as cãibras que sinto até hoje no corpo. Ao contrário, só aumentou.

A meta agora é aumentar a minha velocidade nas provas de dez quilômetros e, em 2016, correr outra meia-maratona, numa velocidade melhor.

Tenho um treinador que é muito pé no chão. E ouvir treinador é sempre um exercício de humildade.

Aliás, não aconselho ninguém a sair por aí correndo a fazer provas de longa distância. Sempre que possível, é preciso buscar orientação profissional. Gastamos dinheiro com tanta bobagem. Nisso, vale cada real.

Há pessoas que só dão valor à saúde e à qualidade de vida quando elas faltam. Elas geralmente são as primeiras a ter problemas de saúde e qualidade de vida.

Não gosto de carros, de relógios, de roupas caras. Visto Gap e Uniqlo. Como viajo muito, meu luxo é levar o treinador para as viagens. Esse investimento traz muito retorno, a curto, médio e longo prazo.

Comecei a correr porque precisava de um “break” na vida. O exercício tira a cabeça do estresse empresarial. Mas ganhei muito mais. A corrida acaba puxando a vida toda. Em direção a uma alimentação mais saudável, um sono mais profundo, uma vida com mais disciplina e com mais foco.

O ser humano não nasceu sedentário. O sedentarismo é um mal moderno, que precisa ser combatido com uma visão moderna da vida. O brilho da revolução tecnológica muitas vezes ofusca uma revolução mais importante em curso, a revolução da alma e do corpo em busca de uma forma melhor de vida.

É a corrida do homem para dentro de si mesmo.

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."