Espaço do atleta: a saga de Claudia Figueiredo pela sua primeira medalha na Mizuno Uphill Marathon

A minha saga com a Uphill começou em 2014 ao assistir o documentário sobre a prova e conversar com amigos que tinham participado daquela edição. Só relatos incríveis e apaixonados, apesar de toda dificuldade. Consegui me inscrever para 2015 e foram meses de muito treinamento e suor para completar a tão temida maratona. Completei. Porém, três minutos acima do tempo limite e, por isso, não recebi a tão sonhada medalha. Triste, mas não desanimei. Me inscrevi  para o sorteio de 2016 e consegui a inscrição, mas para correr 25km.

Antes da Uphill, eu teria a Maratona do Rio de Janeiro e, com ela, a maior emoção da minha vida: correr os 42km ao lado de Dona Lindalva, minha mãe. Meses de treinamento com ela e sozinha para não perder toda minha velocidade. Depois seriam 3 meses de treinos específicos para a Uphill. Só que um dolorido esporão apareceu no calcanhar direito após a maratona e todo planejamento se foi. Fisioterapia três vezes por semana, acupuntura, remédios, simpatias… e quase tudo o mais que me falavam. Não queria pensar na hipótese de desistir da prova. Mas nada estava adiantando muito… amenizava um pouco, mas daí saía para treinar com meus amigos e a dor dilacerante voltava. Que angústia. Quarenta e cinco dias antes da prova procurei outra fisioterapeuta, a triatleta Juliana, e uma luz acendeu. Crochetagem uma vez por semana até a prova, troca da marca do tênis e quase zero de corrida, assim eu fiz. A dor lá estava, mas muito, muito suave. Ela não era mais incapacitante.
Claudia  (de laranja) e amigos na largada dos 25km da Mizuno Uphill Marathon
Depois de tantos treinos com um grupo sensacional criado especificamente para esta prova, cariocas focados para ir morro acima… Treinamos na Serra do Matoso, Serra do Mendanha, Serra de Petrópolis, Cristo Redentor, Mesa do Imperador… Só a Uphill tem este mérito… Grupos de whatsapp e facebook foram criados para trocas de informações, dicas e treinos específicos para subir a tão temida e desafiadora Serra do Rio do Rastro.
Chegou 3 de setembro, o grande dia. Às 7h, nem lembrava da dor, nem lembrava do pouco que treinei. Era só euforia e muita alegria por estar com meus amigos. Muitos deles conquistados através da prova. Na largada, a emoção de ouvir o vídeo do sapo. Relembrei parte da corrida de 2015 e lá fomos nós.
Até o Km 10 tudo bem, porém, lá pelo Km 12, os dois tornozelos começaram a fisgar e percebi que as câimbras seriam minhas companheiras, o preço por não ter treinado o suficiente. Diminuí bastante o ritmo e continuei correndo. O amigo César de Castro passou por mim e me deu uma baita força, fazendo com que voltasse ao ritmo do inicio, mas logo depois tive que diminuir de novo. Passei a alternar corridas com caminhadas rápidas antes mesmo da Serra do Rio do Rastro.
E chegou ela. Ali começou realmente uma luta com as dores nos pés e com as câimbras. No Km 19, os dedos do pé direito entortaram. Parei e estiquei bem a perna, sem precisar tirar o tênis. Nisso, perdi de 3 a 5 minutos. Voltei. Mas as fisgadas nos tornozelos não me deixavam em alguns momentos nem andar rápido. Achei que mais uma vez a medalha escaparia. Mas não desisti da prova. Mesmo após o tempo limite determinado, eu completaria.
No Km 22, a facada final. Os dedos dos dois pés entortaram. Parei, estiquei as pernas, e nada. Que dor. Tirei um dos tênis e estiquei os pés, mas parecia que teria que quebrá-los para voltar ao normal. Via os corredores passando e, na mente, e me veio a ideia de desistir. Porém, logo em seguida, consegui esticar todos os dedos dos pés. Coloquei o tênis e pensei:  agora é questão de honra terminar. E surpreendentemente comecei a ultrapassar aqueles que tinham me deixado para trás. Mesmo caminhando, percebo que estou rápida. Meus braços pareciam pêndulos de relógio. A dor estava esquecida. Volto a correr no topo da serra. Os tornozelos fisgando, mas estava determinada a terminar. A neblina não me deixa ver nada, mas escuto os gritos de alguns corredores solidários, que, após completar os 25km, voltavam para nos incentivar, como Guilherme Sac. Faltam 500 metros… Vejo BernardoFonseca, o idealizador da Uphill, que me diz que faltam 200 metros: “Guerreira, vai que dá tempo”. E não é que deu. No laço. Mas consegui a sonhada medalha. Pura superação. Pura garra. O físico não ajudou, mas a mente foi determinante.
Claudia Figueiredo (de laranja) e seus amigos no portal de largada dos 25km da Mizuno Uphill Marathon
É… a Uphill não é para curiosos. Não treinei por um problema de saúde e quase paguei um preço alto. Minha saga ainda não terminou. Espero em 2017 estar novamente para os 42km e poder buscar a minha medalha que ficou lá no ano passado. Tenho que dar o meu melhor, pois estou devendo isto à Serra e à prova.
Torço para que todos os corredores possam um dia fazê-la, que possam um dia superar seus limites, possam um dia conquistar com respeito e muito suor a Serra do Rio do Rastro. É uma prova sensacional, com um visual espetacular e o melhor de tudo: com amigos para sempre.”
Claudia Figueiredo

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."

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