Espaço do Atleta: Bernardo Tillmann e os dois lados do seu décimo Ironman

Minha ligação com a Ilha da Magia é enorme. Já são 10 participações na Volta à Ilha e o sexto Ironman, onde fiz minha estreia em 2003. Catorze anos depois, continuo sendo atraído pela energia desse local que une esporte e natureza, duas das minhas grandes paixões.

Desde da saída do aeroporto no Rio até a linha de chegada, o Iron é uma grande festa; encontro com amigos, novas amizades e uma alegria contagiante.
Cada prova é uma experiência e aprendizado e essa (10° Ironman) não seria diferente.
A chuva durante todo o final de semana, incluindo a prova, deixaram o tempo mais ameno e o ciclismo mais perigoso, mas, mesmo assim, às 6h30, a praia já estava lotada de atletas, familiares, vendedores de capa e guarda-chuva, gente de toda parte do Brasil que veio para participar da festa.
No dia anterior combinamos de nos encontrar às 6h30 próximo à largada. Encontrei com o George na transição, mas no horário e local marcado ninguém apareceu e fiquei alongando e esperando. A Su e Julinha chegaram 15 minutos depois, assim como o Gui Moraes e Lili; batemos uma foto rápida e nos dirigimos para largada, onde encontrei o Igor, amigo de longa data.
Pontualmente, às 7h10, a buzina tocou e começamos a nadar. Com uma boa orientação e com um mar calmo, fui consistente. Muitos atletas da onda anterior na segunda metade, mas nada que atrapalhasse, saí da água com 56 minutos. Fiz a transição e parti para os 180km de ciclismo.
Minha estratégia era fazer um ciclismo controlado através da frequência cardíaca (não deixei passar de 140bpm), sem me preocupar e me estressar com os inúmeros pelotões que passavam por mim a 40-45km/h (confesso que isso muitas vezes desanima). O pedal saiu para 34km/h de média. Consegui me alimentar bem durante todo o tempo e me sentia forte para a próxima etapa.
Entreguei a bike e o corpo estava leve. Transição 2 bem concentrado e até lembrei de passar para próxima “fase” no Garmin e sai para a maratona. Comecei bem e com as pernas soltas, mas, logo no Km 13, minha lombar e posteriores travaram (acho que na descida de Canasvieiras) e não consegui mais correr direito. Fui no trotinho. Parava de tempos em tempos para alongar na esperança de soltar, mas a estratégia pouco adiantava. Com o cardio “sobrando” (não passava de 135-140bpm) e me alimentando bem, fui igual um pinguim km a km, nem as duas passagens pela Avenida Búzios, vendo e ouvindo gritos de incentivo da Su, Julinha e todos os amigos durante o percurso, foram suficientes para a perna soltar.
Nesse meio tempo, lá do outro lado onde tem menos torcida, cruzei com o Diogão, Rannison, George e vi que todos alunos Tribus estavam bem e iriam atingir suas metas, assim como amigos e ex-alunos Gui Moraes e Fábio, o que me deixou mais tranquilo. Lá daquele mesmo lado, onde o filho chora e a mãe não vê, também fui ajudado​ pelo Bê Alvarenga e Bruno Israel, que me deram analgésico e estímulo durante a looooonga maratona. Mas como tudo uma hora termina, depois de infinitas 4h, cruzei o pórtico, dessa vez em 10h27m. Longe do meu melhor tempo, mas com o mesmo sorriso e certeza de sempre, que fiz o que eu tinha de melhor pro dia.
Nossos resultados são reflexo do que fazemos e nos dedicamos durante toda a vida e nesse caso, principalmente nos últimos meses.
A vitória cobra pagamento adiantado e não tenho dúvidas que dessa vez não paguei como deveria. Os treinos não encaixaram em abril e maio por diversas razões e não tinha pretensão de fazer um milagre. Mas se formos esperar 100% de condições favoráveis para realizar nossos desejos e objetivos, com certeza deixaríamos grande parte de lado. Mas se ao invés disso transformarmos o que temos em nosso 100%, podemos chegar onde nossa mente for capaz.
Cada Iron é um turbilhão de emoções, medo, alegria, ansiedade, foco, dor, coragem e insensatez para concluir o (IM)possível e transformar os desafios em realizações.
Mais um para conta e que venham mais, porque a prova mais importante é sempre a próxima.
“This is a line that you have to cross to understand”.
E vc? Qual é o seu Everest?! Eu ainda não cheguei no meu…
……….
Um agradecimento especial a todos que fazem parte de mais uma conquista; minha família, amigos, companheiros de treino, amigos e alunos e equipe Tribus e aos meus parceiros Diego Kadlec (aluno, amigo e fisioterapeuta), Modern Bike e Bibi Sucos.

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."