Espaço do atleta: Gisely Blanc nos 25km da Mizuno Uphill Marathon

Realizei minha primeira maratona na Mizuno Uphill Marathon 2015, escrevi um relato para o Blog do Iúri Totti e obtive bastante retorno, principalmente de corredores que iriam enfrentar a prova de 2016 e estavam apreensivos com a famosa e temida Serra do Rio do Rastro (SC). Recebi contatos com dúvidas sobre o percurso, itens e tipo de roupas necessárias, treinos específicos para aguentar as subidas… Assim, decidi compartilhar a minha experiência na Mizuno Half Marathon 25k, no último sábado (3/9), distância que teve início nesta edição, portanto, uma novidade para todos.

As inscrições ocorreram com um ano de antecedência por meio de pré-inscrição, seguida de sorteio. Me inscrevi nas duas distâncias disponíveis (25km e 42km) e fui contemplada nos 25k. Tendo um ano inteiro pela frente, resolvi colocar essa prova como foco, porém como todo bom corredor (amador) encontrei outras provas pelo caminho. Me desafiei em corridas de aventura, passei a praticar outras modalidades de esportes e perdi um “pouco” o foco. No entanto, com orientação de um médico do esporte (Dr. Paulo Asaiag), nutricionista (Paula Vencato) e meu treinador de corrida (Alexandre Perdão) foi possível me recuperar para realizar os 25k.

Foi necessário disciplina na alimentação, nos treinos de corrida e de musculação, pois não estava nos meus planos subir a Serra do Rio do Rastro lesionada novamente ou/e com sofrimento além do necessário. Porém, mais uma vez eu constatei que a vida não é um fluxograma e, dois meses antes da prova, meus treinos ficaram limitados por uma ‘síndrome do aprisionamento da artéria poplítea’ na perna direita, a hipótese foi de que, devido aos treinos específicos, eu tive uma hipertrofia acentuada que pode ter causado essa compressão. Em alguns treinos, a panturrilha queimava tanto que eu não conseguia prosseguir. A sensação era pior em percursos com subidas. Meu volume de treinos ficou abaixo do planejado, porém a dor foi diminuindo com a redução dos treinos e desapareceu duas semanas antes da prova. Embora tenha treinado menos que o planejado, não havia mais lesão e isso já era um alívio.

No dia anterior à prova, sai de Curitiba rumo a Treviso (SC) para subir a serra mais bonita do Brasil. Assumo que a princípio não me senti tão desafiada nesta prova, pois já havia corrido a distância maior no ano anterior. No entanto, a parte mais difícil do percurso também estaria presente nos 25k e com a proximidade da prova passei a ficar apreensiva por estar com uma gripe forte, pelo tempo de corte da prova (3h29m) e pelo cansaço da viagem (quase 500km dirigindo). E as dúvidas surgiram: “Será que vou conseguir no tempo limite?”, “Corri 42km lesionada e agora meu corpo não vai aguentar 25km?”, “E se a panturrilha voltar a doer?”…

Às 7h do dia 3 de setembro em frente à Prefeitura de Lauro Muller (SC), havia chegado a hora do desafio. Aquela prova que parecia tão distante, estava ali novamente. Na largada, reencontrei vários amigos herdados da prova de 2015 (#GD100), inexplicável como uma prova viabilizou a amizade entre tantas pessoas. Além da expectativa pessoal, havia a torcida e preocupação com os amigos que estavam presentes para um desafio ainda maior, o Samurai, com 25km e 42km no mesmo dia. A organização conseguiu colocar certos elementos na largada, que tornaram este momento emocionante ao ponto de causar até certo arrepio, difícil explicar… a soma da famosa narração do “vídeo do sapo” (vídeo de divulgação Mizuno Uphill 2014) anunciando os 1.420m de altimetria da Serra do Rio do Rastro e em seguida o som do Metallica (Enter Sandman), é capaz de provocar isso…

A previsão do tempo era de frio e chuva, porém São Pedro resolveu colaborar e a temperatura estava amena e sem chuva no início da prova. Até o Km 13, a prova apresenta um percurso com subidas, descidas e plano, nos quilômetros seguintes a inclinação das subidas aumenta, até o momento que poucos correm. Até o Km 20 eu me sentia muito bem e parava apenas nos pontos de hidratação para beber água e para a suplementação. Subir a serra durante o dia tornou a prova totalmente diferente, não há como comparar com a prova realizada durante a noite (Mizuno Uphill 2015). Ver toda a paisagem e curvas da serra torna qualquer sofrimento válido. Correr de dia foi mais “suave”. Parecia que eu não havia corrido naquele lugar antes, simplesmente, era outra prova.

Gisely, de camiseta amarela e preta, na largada da Mizuno Uphill 25km 2016

A partir do Km 20, além das subidas se tornarem mais íngremes, a temperatura aumentou. Estava bastante abafado e sem vento. Passei a alternar caminhada e trote. O trecho entre o Km 20 e 24 é o mais pesado, e eu tive a sorte de encontrar alguns amigos (Marco, Zart, Tay e Josi). É muito bom encontrar alguém conhecido neste momento da prova, para incentivar e ser incentivado: “vamos correr só até aquela placa!”, “olha um fotógrafo, vamos correr mais um pouco!”…

O último quilometro da prova é plano (ufa!!!) e consegui acelerar. Nos últimos metros encontrei com o Guilherme (SAC), que após concluir a prova, em gesto solidário passou a incentivar os corredores na reta final e também “resgatar” alguns que estavam com mais dificuldade.

Por fim, passei no pórtico de chegada com 2h56m e, mais uma vez, foi emocionante completar uma Mizuno Uphill. Participar dessa prova duas vezes me ensinou muito sobre amizade e superação pessoal. Independentemente do tempo de conclusão, eu parabenizo todos que enfrentaram tanto os 25km, os 42km ou o Desafio Samurai. Todos nós que conciliamos treinos, trabalho e família somos Ninjas”

Gisely Blanc

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."

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