Espaço do atleta: os 13 pontos críticos apontados por Monique Lopes sobre a APTR Ultra de Videiras

Antes de começar este post, gostaria de esclarecer umas coisas: Eu não tenho mimimi para provas, não reclamo de provas difíceis, adoro um desafio e não saio me inscrevendo em tudo quanto é prova a torto e a direito sem antes treinar e treinar muito. Tudo esclarecido, então posso começar…

Tudo começou em abril de 2016. Eu havia acabado de correr 27km em uma das provas que eu mais amava (APTR de Videiras) e fiquei observando as pessoas de 55km passando. Pensei assim: eu posso e vou participar! Ano que vem eu vou fazer minha primeira ultramaratona e vai ser aqui, em uma das provas que mais amo (afinal eu confiava de olhos fechados na estrutura que nos era fornecida).
Comecei a treinar sério em dezembro, faltando 5 meses para a prova. Passava horas no meio do mato, simulava a altimetria da prova, acumulei desde dezembro quase 600km onde deixei minhas frustrações, meus medos, minhas angústias e principalmente, meu tempo. Não pense que estou dizendo que foi em vão. A corrida nunca será em vão. Mas é como estudar muito e perder uma prova. É no mínimo frustrante. Bem, mas não vamos nos precipitar. Ainda chego lá, ou melhor, não pude chegar… continuando…
Depois de tudo isso eu me sentia forte, capaz, pronta para enfrentar os desafiadores 55km. Estava ansiosa mas sabia que iria conseguir. Acordei às 2:30 da manhã no sábado, parti para o vale de Videiras, peguei meu kit e fui tomar o café da manhã oferecido pela organização. Aí começaram os erros. Vou enumerar para ficar mais ilustrativo:
1 – Não tinha água para encher a mochila dos atletas. Em todas as edições sempre teve água na largada e água é o mínimo que uma prova de ultramaratona deve disponibilizar.
2 – Largamos e menos de 500 metros depois as pessoas erraram o percurso. Não havia staff nos pontos críticos de bifurcação.
3 – Pegamos um morro de altimetria e dificuldade semelhante a do morro do cuca (mais de 1000m de altitude) no início sendo que esse percurso não existia e foi modificado 3 dias antes da prova.
4 – A quilometragem estava totalmente errada. Você pode pensar: ah, mas quem corre 55km pode correr 60km. Pode não. Depois de fazer 55km, 5 km equivale a 10km. Se for na trilha, pode se comparar com 20km. Até porque nessas condições de cansaço e dificuldade extrema, você vai fazer 5km em mais de 2 horas.
5 – Os tão famosos postos de hidratação da prova estavam escassos. Não tinha nem metade do que foi prometido no regulamento.
6 – Alguns staffs eram adolescente. Não tinham capacidade de orientar os corredores perdidos e estavam trabalhando há horas por uma miséria, sem almoço e sem previsão de término.
7 – No morro do Cuca, um dos pontos mais críticos e perigosos da prova, onde existia risco de morte, não havia ninguém para orientar os corredores.
8 – Esse morro inicial aumentou o nível de dificuldade da prova. O mesmo não aconteceu com o tempo de corte que deveria sim, ser maior e não o mesmo.
9 – Existia risco dos competidores se perderem mas somente os do percurso de 55km foram impedidos de prosseguir. Ouvi claramente o staff liberando os corredodores de 75km e 119km que passaram bem depois de sermos cortados. Eles não iriam estar no meio da mata fechada, no escuro, sem faixa reflexiva também?
10 – Eu e os outros que estavam comigo no ponto de corte, ficamos lá parados, molhados, no frio e aguardamos aproximadamente 2 horas por um carro da organização.
11 – Os staffs não conseguiam se comunicar com a organização de forma eficiente.
12 – A organização demorou a tomar providências efetivas para buscar os que estavam perdidos.
13 – Mesmo depois de 70% dos participantes insatisfeitos, o organizador teima em dizer que tudo o que aconteceu foi “um pequeno erro”.
São esses os “treze porquês” da insatisfação. Da frustração. Não estou aqui reclamando pela dificuldade, pela altimetria mas sim pela falta de respeito com os nossos treinos, com nosso tempo, com tudo o que deixamos de fazer para estar lá. Eu cheguei longe. Foi superação. Em mais de 8 horas de prova fiz os 40 km mais difíceis da minha vida e com a estrutura ideal, faria novamente. Não desejo o mal de ninguém. Só gostaria que o organizador fosse um pouco mais humilde em admitir seu erro grave. Eu nunca digo nunca para nada. Não gosto de ter que voltar atrás em nenhuma decisão que eu tomo porque quando eu digo NUNCA MAIS é NUNCA MAIS. Por isso espero não ter que dizer NUNCA MAIS para Videiras porque eu amo muito correr naquele paraíso.
obs1: Eu só vim aqui para postar esse texto.
obs2: Espero que respeitem minha posição. Eu prezo pelo meu prazer e não costumo me punir para afetar outros.
obs3: Mesmo com todos os erros, antes do corte, eu estava anestesiada, apaixonada, encantada e me divertindo muito.
ob3: O melhor da corrida é o caminho que se percorre e os amigos que se faz!
Monique Lopes 
APTR divulga nota sobre a Ultra de Videiras

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."