Espaço do atleta: os 281km de Ana Luiza Faria Matos na PT281+ Ultramaratona, em Portugal

Em agosto, fui a Portugal correr a segunda edição da PT281+ Ultramaratona, com a  distância de 281km. No ano passado, foram 6 finishers e nenhum deles era mulher. Seria meu primeiro desafio internacional e também minha primeira viagem internacional.

Para ir para essa prova, contei com a ajuda de uma legião de amigos que fizeram uma vaquinha virtual e real. Cheguei em Portugal no dia 17 de agosto e a prova aconteceu das 18h do dia 18 até as 12h do dia 21, totalizando 66 horas para completá-la. A largada foi dentro de um castelo na cidade de Belmonte, onde Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil, nasceu, e a chegada em Proença-Nova.
A alegria de Ana Luiza
O diferencial dessa prova é que seu percurso é todo marcado por GPS para orientação, não havendo intervenção do homem e nem sujeira com marcações na natureza. A organização fornece um dispositivo tracking para acompanhamento em tempo real através de aplicativo, em qualquer parte do mundo, porque haviam atletas de várias nacionalidades. O que tornou possível a torcida dos meus familiares e amigos aqui no Brasil.
Passamos por muitos castelos, cidades históricas, aldeias típicas, cidades em ruínas preservadas, plantações de uvas, figos, pêras, ameixas, azeitonas, que podíamos degustar. Ao longo do caminho sempre havia água fresca em bicas de fontes. E o mais interessante, é que quando passávamos por alguma aldeia ou povoado, nas portas de suas casas haviam sempre garrafas de 5 litros de águas das fontes à disposição ide quem quisesse se refrescar ou se abastecer.

O sol, nunca vi igual. Era o primeiro a acordar, por volta da 5h30m, e faz hora extra, saindo de cena após às 21h. Também passamos por algumas festas de santos religiosos, com as pessoas nos saudando por ocasião de nossas passagens, oferecendo bebidas diversas.
A prova em si é muito dura, com subidas longas e descidas com muitas pedras ao longo do caminho, o que tornava a passagem por vezes muito dolorosas. Meus pés ficaram cozidos literalmente e cheio de bolhas por causa do calor excessivo. Também havia muita beleza como praias fluviais.
Ana Luiza e seu treinador Alexandre Ribeiro com o o troféu de vice-campeã da PT281+ Ultramaratona
Encontrei uma organização de primeira. Nunca antes havia visto tamanha preocupação com os atletas, tentando amenizar a dureza da prova nas bases de apoio. Por ter participado de algumas provas longas, e até mesmo já ter percorrido a  distância de 281km, pensei ser possível completar em 50 horas, mas terminei com 65h49m, ficando na segunda colocação feminina, sendo a primeira brasileira a completar a prova e com a sensação de vitória. Ali, ser finisher é ganhar. Experiência única.

Iúri Totti

Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”

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