Espaço do Atleta: Os perrengues de Vera Saporito ao se perder no XTerra Paraná

Resolvi falar sobre o XTerra Camp Paraná, que participei dos 42km no último sábado (15/10), na fazenda Genésio Borsato, na Represa dos Alagados, em Ponta Grossa, onde só EU consegui me perder… kkkk… Mas este contratempo me fez passar por uma experiência que muitas pessoas passam em provas de montanha…

A largada do XTerra Paraná aconteceu às 7h. Todo mundo empolgado. Lugar lindo, um lago maravilhoso. Primeira edição, uma novidade pra todos!
A buzina tocou e lá fomos nós para os 42km. Eu estava meia apreensiva, pois eu sou um desastre em estradão (rs). A primeira colocada disparou na frente e eu fiquei controlando a velocidade porque não fazia a mínima ideia do que me . Mas já estava gostando do percurso, pois estava bem enlameado e o clima estava ótimo! Comecei a acelerar aos poucos e logo começaram as trilhas que eu amoooo!!!

Por volta do Km 10, uma moça encostou em mim e já viu né? Falo pouco nestas provas e assim começamos um papo bem legal! Ela se chama Adeci, trocamos informações de provas, de ritmo, que, pqp, ela estava chutando bem e eu, pangaré de ultra, tentando ficar no pace dela… Ela acabou me passando. Olha gente, fazer 10km em 50 minutos em prova de montanha de 42km é rápido demais pra mim… kkkk… mas mesmo assim corremos juntas aproximadamente 17km. A prova começou a ficar beeem técnica. Nos deparamos com uns paredões para escalar, que acabou dentro de uma pedra que se subia com ajuda de corda! Aí começou um tobogã, num sobe e desce frenético…
Foi quando ela abriu. Eu precisava comer, beber respirar… kkkk … e perdi ela de vista. Foi quando eu fiz a cagada!!! Havia uma fita zebrada na minha frente. Olhei a fita e segui adiante. Fui correndo e nada de outra fita. Fui parar num lugar onde haviam VÁRIOS pinheiros, que confundem mesmo. Acabei entrando em algumas trilhas e foi batendo o desespero: “PQP eu me perder em Curitiba. Não faço idéia de como me localizar (sou péssima nisso). Não sei nem ler mapa… kct!”
Avistei um monte de cavalos pastando e pensei: deve ter gente por lá. Corri loucamente até lá. E cadê gente? Voltei… Só que não voltei sozinha. No meio dos cavalos tinha um jegue, burro, sei lá o que era. Só sei que ele começou a me seguir! Fui trotando devagar, ignorando a presença dele. Pensei que, assim, ele ia desencanar, e nada do fdp ir embora! Me bateu o desespero e apertei o passo… E não é que ele acelerou também!!!  Comecei a pirar: “Meu Deus do céu, vou tomar um coice e ninguém vai me achar!”
Não sei porque, mas graças a Deus o jegue deu um giro de 180 graus, deu uma relinchada do tipo “vaza daqui” e voltou… kkkkk… Fui tocada do recinto e consegui voltar para o caminho certo. Graças a Deus!!!
Pensa que acabou??? Nãoooo… A gênia aqui estava de novo no percurso, mas voltou para trás. Encontrei o cara da organização:
“Você já passou por aqui…”
“É verdade. Caguei né?”
“O caminho é pra lá!”
Comecei a correr loucamente. Estava em terceiro lugar. Passei por outro staff e perguntei quantas mulheres tinham passado por ali. Ele disse oito. Putz. Respirei fundo e me conformei. Vamos lá, Vera, terminar esta prova com dignidade… rs.
Minha mochila tinha comida e bebida sobrando. Isso me salvou, pois corri 8km a mais do previsto. Encontrei um moço no caminho mancando:
“O que aconteceu?”, perguntei.
“Meu joelho não dobra. Ele dói muito!”
“Tem advil?”
“Não tenho nada!”
“Toma. Não vou precisar. Pelo menos assim você consegue administrar melhor essa dor e terminar. Ok?”
Gente, eu levo advil, cataflan gel, omeprazol e um kit de primeiros socorros obrigatório. Isso é essencial nestas provas.
E assim segui meu caminho, sonhando com a chegada. Meu gps bateu 42km em 6 horas. Num paredão encontrei um fotógrafo muito legal da organização, que ficou escutando minhas lamurias:
“Meuuuu, me perdi. Estava em terceiro lugar e entrei num caminho errado. Acho que eu nasci para correr 50km… kkkkk.”
“Foi você que se perdeu??? Que pena. Mas você tá forte. Vai lá, guerreira, tá acabando!”
Cheguei com a premiação feminina começando. O Bruno Onézio, da organização, disse:
“É a primeira vez que eu vejo você chegar em uma prova com a premiação feminina rolando… kkkk”.
“Fazer o que né?… rs… Mais um aprendizado!!!”
O que eu aprendi? Aprendi que sempre temos que estar ligados em todos os lados. No ponto em que me perdi, havia a fita de cima e na lateral. Se tivesse olhado para o lado, nada disso teria acontecido. Ainda bato na tecla APRENDA A SER AUTO SUFICIENTE. A prova estava bem sinalizada. Suporte excelente nos pontos demarcados. Os 8km a mais que corri ficou por minha conta. Apesar de entrar em desespero em alguns momentos, o meu psicológico está bem treinado para provas longas. A melhor companhia neste momento somos nós mesmos! Os treinos longos servem pra gente se conhecer e se virar em momentos difíceis.
Ano que vem vou voltar, pois essa prova me conquistou. Ponta Grossa é uma cidade linda, tem cachoeiras sensacionais, o clima é perfeito e as pessoas super atenciosas! Xterra Paraná, ano que vem estaremos juntos! Obrigado por tudo!
Vera Saporito

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Sobre Iúri Totti 1379 Artigos
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. "Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer."