De Alejandro Prado, El País
Beatriz Morillo chega ao encontro correndo enquanto empurra um carrinho com duas crianças. Não é incomum. Fazendo isso entrou no Guinness dos recordes quando completou a Meia Maratona de Laredo (Cantábria) em 1h28m28s. Seus filhos, Valeria, de 4 anos, e Gabriel, de 2, não parecem nem um pouco incomodados pelo leve balanço, pelo contrário. A menina dorme placidamente o tempo todo e ele reclama se sua mãe não coloca o carrinho para andar. “Ele gosta de velocidade. Quando subo uma ladeira me diz: “Mamãe, mais rápido”, diz Morillo.
A madrilenha de 36 anos é ex-atleta profissional e professora de educação física. “Me considero uma ótima mãe, gosto de compartilhar tudo com meus filhos”, diz sobre sua ideia de começar a correr com o carrinho. Também quis fazer sua primeira meia maratona com essa carga de 45 quilos (16 de Valeria, 13 de Gabriel e 16 do carrinho). Após completar a meia maratona de Madri , em abril de 2019, em 1h31m51s, percebeu que havia ficado muito próxima do recorde de correr os 21km empurrando um carrinho com duas crianças. “Comecei lá de trás, com muita gente, de modo que precisei ir correndo porque estava espremida com o carrinho. Percebi que se com essas condições fiquei tão próxima, o recorde era possível”.
Recorde na primeira tentativa
A tentativa de Guinness ocorreu em 2 de junho, em Laredo. Beatriz precisou gravar toda a corrida para que o recorde pudesse ser homologado. “A organização me deixou ficar na frente para evitar a aglomeração, mas me colocaram a condição de sair em um ritmo forte”. Fez o primeiro quilômetro em um ritmo bem abaixo de quatro minutos por quilômetro e demorou para se acalmar. “Encontrei Fabián Roncero [ex-atleta profissional] e ele me disse: ‘Regule, faz muito calor”. A marca da alemã Kerstin Bertsch caiu com facilidade. Morillo acabou com um tempo de 1h28m28s, mais de três minutos abaixo.
Ultramaratonista Márcio Villar no Guinness
Beatriz já aparece no Livro Guinness com Valeria e Gabriel, mas esclarece que não dão nada pelo recorde. “De fato, você precisa pagar US$ 1,2 mil (R$ 4,5 mil) se quiser que um juiz venha e homologue na hora”, afirma. Ela não deu esse dinheiro e agora finaliza os trâmites burocráticos para que tudo fique registrado, ainda que o recorde já seja seu e não descarte melhorá-lo ainda mais em pouco tempo.
Rotina de mãe a fez voltar para a corrida
A própria protagonista reconhece que o Guinness é só uma curiosidade, por mais que o nome ressoe tanto na imprensa. O principal é uma história de superação e conciliação. Morillo se machucou gravemente durante uma prova em 2010 e sua carreira no atletismo acabou. O nascimento de sua filha coincidiu com o ressurgimento da vontade de correr seriamente. “Imediatamente você se vê sujeita a horários, dando de mamar quando a bebê fica com fome, trocando fraldas o tempo todo, dormindo em horários inesperados e não descansando de noite”, escreveu Beatriz em um artigo da revista “Corricolari”, mas como diz depois: “Não queria me separar da pequena para treinar”.
Quando dois anos depois ficou grávida de Gabriel, Morillo continuo correndo “com carrinho e de barriga” até o oitavo mês. Não acredita nas teorias que desaconselham a praticar esse tipo de esporte durante a gestação. “Com minha primeira gravidez parei radicalmente de fazer exercício e tive trombose na perna. Depois disso, estou condenada a movimentar as pernas”, conta.
Bom para as crianças dormirem bem
Pela ciclovia que a corredora frequenta é possível ver algumas mães e pais correndo enquanto empurram seus carrinhos. “Eu aconselho. É ideal porque, principalmente no verão, quando se corre tarde, você coloca roupa confortável nas crianças e elas chegam em casa relaxadas, prontas para dormir”.
Beatriz continuará com o hábito, ainda que assuma que um dia irá terá que parar. “Eu sentirei falta. É um exercício ideal, uma academia móvel”.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”