Meu envolvimento com a corrida surgiu em 2009. Recém chegado ao Rio de Janeiro, eu achava que a cidade estava o tempo todo me chamando pra sair de casa e fazer atividades ao ar livre. No início tudo parecia impossível. Intercalava corrida com caminhadas e não contava a distância por km e sim por prédios, postes e coqueiros… Ficava feliz a cada dia que chegava até um prédio novo. Correr sem andar, durante 5 minutos, era uma realização.
Nesse esquema eu fiz a minha primeira prova de 5k. Olhava pra qualquer pessoa que corria além disso como alguém louco! Com o passar dos anos fui correndo cada vez mais e encontrei um professor que me ensinou tudo que sei sobre corrida. Me sentia preparado pra fazer uma Maratona.
Simplesmente detestei! Cheguei muito mal, com muitas dores, torcia pra acabar logo com aquilo. Ao contrário da maioria dos maratonistas, eu não tinha ficado feliz. Completar aquela prova não me trouxe realização. No ano seguinte pensei melhor e resolvi tentar novamente. Queria entender o fascínio pela maratona. Encarei toda uma rotina de treino. Estava me sentindo bem e novamente detestei! Tinha a certeza que não faria mais!
Simplesmente parei de pensar em maratonas. Paralelo a isso, eu fui ficando cada vez mais envolvido com o simples fato de correr. Sem ligar pra distância e velocidade, resolvi abandonar o relógio. Conversei com meu treinador e falei: “Quero correr todos os dias, mas não estou treinando pra nenhuma prova”.
Correr sem obrigação
E assim eu fui me adaptando a essa nova realidade. Durante a semana corria sozinho e final de semana aproveitava o grupo pra acompanhá-los nos seus respectivos treinos. Fazer dois longões seguidos, estava se tornando algo comum. Meus companheiros ficavam surpresos quando descobriam que eu estava ali só pela companhia e não por estar treinando pra alguma prova específica.
Giovani dos Santos vence a Maratona do Rio
Maratona do Rio: O Desafio pelas lentes de Silvio Boia
Com a data da Maratona do Rio de 2019 se aproximando, fui presenteado com uma inscrição pro Desafio Cidade Maravilhosa. Aquele sentimento sobre a maratona ainda continuava, então coloquei na cabeça que iria fazer somente os 21k no sábado, e, se me sentisse bem, eu faria os 42k no domingo. Sem nenhuma obrigação! Me sentia tão livre que até resolvi testar um tênis baixo, sem amortecimento (completamente diferente dos que eu estava correndo) e uma meia de compressão (algo que nunca tinha feito até então).
A minha decisão de fazer o Desafio ocorreu praticamente algumas horas antes da largada. Estava confiante. Sabia que correr todo dia, tinha preparado meu corpo para suportar tal distância, e que a não obrigação em seguir um pace tinha preparado minha cabeça para simplesmente curtir a prova.
Depois fiquei sabendo que finalizei meu desafio em 1h43m nos 21k e em 3h56m nos 42k.
Talvez esse seja o relato mais diferente que alguém vai fazer sobre a realização do Desafio Cidade Maravilhosa, simplesmente porque eu não tinha previsão nenhuma de fazer.
Queria agradecer demais aos meus amigos João e Gisela por me presentearem com a inscrição, e a minha assessoria Runners Club por todo o apoio e por ter me treinado pra ser simplesmente um corredor livre.
Iúri Totti é jornalista, com mais de 30 anos de experiência na grande imprensa, principalmente na área de esportes. Foi o criador das sessões “Pulso” e “Radicais” no jornal O Globo. Tem 13 maratonas, mais de 50 meias maratonas e dezenas de provas em distâncias menores. “Não me importo em ser rápido. A corrida só precisa fazer sentido, dar prazer.”